domingo, 29 de novembro de 2009

Depoimento ( 7 )*



HALLAI HALLAI VISIONS







Mr.Lee ,o pioneiro , cowboy implacável, símbolo da música local ; contra tudo e contra todos; cuja atuação estava mais ligado a marcha da civilização dos músicos gaúchos pela conquista de um espaço coast to coast .
Na bagagem mais de 4.589 búfalos mortos por dia, nas ruas e nas ondas de Porto Alegre City , para mostrar que “santo de casa também, faz milagres “.

Este era o clima feérico e cinematográfico da época , tal era a energia, que rolava
no “ Mister Lee In Concert”, nos dias que antecederam a viagem a Curitiba.



HALLAI*HALLAI*
Mr. Robson*Paulinho Velho Xerife & Necão Cast.*
“ A linha esta traçada /
O destino marcado /
Os ventos de agora /
Voarão amanhã /
Como o presente agora /
Será depois passado /

A ordem esta
A desaparecer rapidamente /
E os primeiros de agora /
Serão mais tarde os últimos /
Porque os tempos estão a mudar
Bob Dylan / 1964
(The times they are a –changin’)

P / Nanda – Como foram os dias antes desta viagem histórica, eu acho que esta experiência foi a única com estes paradigmas todos..som local, Rádio Continental,
músicos de Porto Alegre, e também um momento difícil pois o caldeirão cultural de
nossa cidade sempre foi muito estranho aos ouvidos de outros estados ?

R / Necão – O Júlio preparou tudo, mandava toda semana para Curitiba fita gravada do programa Mr. Lee, e a Rádio Iguaçu colocava no ar toda aquela energia musical aki de Porto Alegre...não sei realmente como isso se deu, mas tudo que se plantava se colhia , e não tinha manipulação nos acontecimentos.
Era uma coisa muito forte, muita garra e inventividade.

P / Lucas – Então, aquele lance “coast to coast “, não era uma invenção , aquilo realmente estava na cabeça do Mr. Lee ?

R / Necão – Sim , a formação dessa idéia não veio assim de uma piração, tudo estava se encaminhando para um crescimento profissional do próprio movimento.
A tendência era esta, todos na época estavam vivendo uma espécie de desnacionalização completa (75/ 76), a ressaca de todo aquele nacionalismo dos militares ...; então a nossa” válvula de escape” era o sonho, e através da música
pensávamos em expandir esta matéria prima que estava sendo feita nos estúdios da Continental...o imaginário coletivo do “Vivendo A Vida” levava a todos estes pensamentos de expansão a novos horizontes.

P / Fanni - O pensamento do “Vivendo” se acreditava musical e não político ,
então , eu acho que o Vivendo a Vida de Lee , tinha todas as condições de
cair na estrada e realizar o “Coast of Coast”, a época era propícia e estava tudo
começando a se encaminhar com a viagem a Curitiba .

P / Marco – “ Pego a mala depressa, uma promessa não vou quebrar, vou para CURITIBA, ouvir as flautas de muito além. ? ( palmas ...palmas) klap...klap...klap...

R / Necão – Antes da viagem eu estava passando por um período de muita Turbulência , dentro do Grupo as coisas não estavam bem, muitas confusões,muito cansaço de tudo,muitas animosidades, o Hallai ,além da parte musical,tinha um consultório “freudiano”, o Paulinho foi um que,exorcisou todos os demônios dentro do grupo, o Robson não aceitava muitas atitudes do Paulinho,o Sergio, também reclamava muito ...estava naquela fase ...ser ou não ser....não sei se caso ou compro uma escada?...problemas e mais problemas....este acorde não é com sétima...o baixo tem que conduzir ....tem que ter balanço....aniversários de 15 anos, eu tenho que ir....vestibular ? De novo! O Robson fez todos os vestibulares possíveis no tempo do Hallai Hallai... O Paulinho ficava “puto”, pois quando acontecia isso, os ensaios iam” pras cucuias”..”.De novo, não é possível, assim não dá”...Necão que barbaridade...já pensou se fosse numa apresentação.
O Paulinho estes dias me disse assim:”Necão , eu só fiz “cagada” na minha vida”!
O “veio” tem consciência de tudo”,...mas pessoal, o Hallai tinha uma sala “Sigmund Freud”...o consciente e o inconsciente e, conforme o Sig, os impulsos e desejos , vem do nível inconsciente...e disso não seríamos nós do Hallai, que iríamos escapar... ..na arte da música, talvez com muito mais intensidade...pois revira todas as camadas do ego ...e ninguém aceita todo tempo viver esta catarse , sem colocar ma mesa o seu próprio “ego”...num grupo vocal tudo isto é muito mais intenso... por isso meu amigo, os grupos vocais são tão raros...!

P / Nanda – Necão , como é que tu vivia no meio destes impulsos , porque tudo
que se repete demais, leva a uma profunda hostilidade ?

R / Necão – As neuroses começaram aos poucos , no dia-dia...nos concertos da Lee, nos ensaios, e quando estava em plena eclosão , surgiu o Concerto em Curitiba , já estávamos em 1976... e tudo começou no ano de 1975...tudo foi num crescente...mas eu, acreditava no potencial do grupo, e naquele momento era com eles o Hallai.

Caras, eu ficava entre cristais tentando não deixar cair os copos...sabia de todo potencial musical do pessoal e os compromissos com o “Vivendo” , estavam estourando nas datas...além disso tudo , eu trabalhava numa empresa que tinha um audacioso plano de marketing ,e contava com 8 relações públicas para tal tarefa , era uma Empresa que tinha sede no bairro Navegantes, e locou um escritório no centro da cidade para executar o plano...era mais ou menos assim:Nossa tarefa era entrar no meio de um monopólio que era dominado pelos representantes de confecções,mais os lojistas, mais os que transportavam as mercadorias...todos judeus , a empresa que eu representava era de origem italiana...e o plano deles era destronar toda esta confraria comercial...isto dá no mínimo um “longa” pra concorrer em Gramado...além do meu cargo , eu comecei também a fazer parte da equipe de marketing, que tinha reuniões desgastantes na formatação deste plano de derrubar este monopólio...bem isto dá uma novela pra Globo passar em horário nobre...um dia eu conto...tipo assim Raimond Chandler...muita intriga...espionagem...mentira , sexo e vídeo tape...
( risos...algazarra...risos conta ...conta...).

P / Lucas – Mas , Necão...tudo isso no meio desta viagem para Curitiba...?


P/ Fanni – Necão isto é fascinante , esta galeria de fatos rodeando o “Vivendo”?

R / Necão - O Júlio reuniu o pessoal e avisou : ” Vamos pra CURITIBA , que o
O Mr. Lee está estourado lá... preparem o melhor de cada um de vocês...que a coisa começou a ficar séria.”... eu e Paulinho saimos da Continental, olhamos a rua da Ladeira (General Câmara) e ficamos em silêncio pela segunda vez , coisa rara entre nós...”caminhando e cantando seguindo a canção “...esta era a história que estava se aproximando, através da música e pela música iríamos atravessar o Mampituba, finalmente !!!

E aí o que aconteceu ?

Marco, Nanda,Lucas e Fanni ..(todos juntos)... “foram pra pça Rui Barbosa comer
cachorro quente com duas lingüiças com trema “... (risos ...risos...muitos risos)
Ninguém é de ferro !

 
P / Marco – Este “cachorro”... ainda existe algum vestígio...?

R / Necão – Não digo este, mas as coisas se repetem, depois, alguns anos depois, não apareceu o “ cachorro do rosário”... aquela Porto Alegre romântica ainda existe, é só ter dois caras sonhadores como eu, e Paulinho que você descobre, caminhando pela cidade e entrando em lugares ao acaso...o acaso é Deus.

P/ Lucas – Todas estas incompatibilidades fazem parte das histórias das bandas,
voltando ao caso específico do Hallai...é uma repetição , claro , que com outras proporções...se a gente olha de longe...apenas vê uma época longínqua...com os personagens desta vasta galeria, até com vergonha de ter discutido por tão pouco assuntos não tão sérios como se pensava na época.

R / Necão - Vou citar , também casos aki na “ aldeia “ , João Antônio e Chandi,
Pesão e ZéFlávio , Fernando Ribeiro , Toneco & Ayres , e muitos outros que depois do “Vivendo” , não fizeram mais nada de interessante juntos...digo isso dentro da minha visão de observador e participante do “Vivendo”, as coisas terminaram , as parcerias, e o principal, a amizade acabou...eu senti isso.

P / Fanni – Isto até parece conversa de bar, por isso rola tudo que é assunto,
mas . voltando a fita... após o “cachorro”...?

R / Necão – Me lembro que subi a Dr. Flores, me segurando pelas “paredes”
estava em completa estafa , ...eu morava na Salgado Filho , avenida barulhenta...
o Corujão e o Corujinha , dois bares de alto teor de mulheres, ...agitavam a noite inteira, uma balburdia sem tamanho ... era difícil dormir ...eu levantava cedo para ir para a empresa trabalhar naquele plano mirabolante de “bolar “ um “contra veneno”, para entrar naquele monopólio que estava instalado nas confecções de Porto Alegre...começamos a ensaiar nos dias seguintes para preparar o repertório do Hallai para a grande aventura em Curitiba.

P / Lucas – Os ensaios rolaram sem problemas ,visto tudo que estava acontecendo ?

R / Necão – Aconteceu em mim, uma “metamorfose “,... descobri depois , indo ao médico, que estava com todas as minhas imunidades abaixo do desejado, muito inferior ao índice zero... estava com anemia profunda...os exames confirmaram.... repouso total...o médico , Dr. Pellin, recomendou....o Concerto em Curitiba estava pra acontecer, dali a poucos dias... comuniquei o fato a banda... mas que iria de qualquer jeito... o fato chegou aos ouvidos do Júlio...e quando não mais que de repente , adentrou no meu edifício, Mr. Lee, o cowboy de todos os momentos difíceis, ...o Júlio chegou e disse: “Necão , tu vai comigo , o Bayar e o Bender de avião, não te preocupa , vamos arrasar em Curitiba...... o velho cowboy , que eu e Paulinho , confessadamente tínhamos uma paixão platônica, cresceu 20 metros de altura em nossos corações...”Velho xerife, hei, hei , hei...Pelo grande vale um belo rastro ele deixou/ Cavalgando a noite as estrelas namorou.

P / Lucas – Agora eu entendo as diferenças entre Julio Furst e a Continental que
tu falaste no início do depoimento... O Júlio sempre esteve em parceria com os músicos , devido ao fato que ele, na essência é músico... e esta foi a maior prova
não só da dedicação do Hallai ao movimento, como a seriedade que o Julio dava
aos Concertos “Vivendo a Vida de Lee”. Por tudo isso, é que ficou na história.

P /Fanni – Os bastidores é que revelam o que depois, verdadeiramente vai aparecer no palco, mostrando como isso pode interferir diretamente no rendimento do artista, esta é a tão falada delicadeza que falta a quem lida hoje com a arte...vide o que aconteceu com a LIC no nosso Estado.

R / Necão – A partir de tudo isso, uma paz começou a reinar no Hallai, os ensaios
foram todos geniais , as violas e as vozes na mais perfeita harmonia e ficamos
todos mais unidos.... Curitiba, nos devolveu a harmonia tão perseguida.... comecei
a fazer o tratamento quando faltava uma semana para a viagem...o Dr. Pellin me receitou todos aqueles remédios para os glóbullos brancos , todas as tardes, eu ia na Borges (av.) , para fazer uma série de injeções de óleo na veia , super doída
e que me inspirou para aquele verso da música “Vento Minuano “....Descendo a Borges de Medeiros ú ú ú´...Eu sinto o coice que o cavalo não deu.../ esta musica na verdade foi se delineando com o passar do tempo , ela começou com uma letra e foi se definindo aos poucos , quimicamente ele se definiu com aquelas injeções na veia , na Drogaria Panitz na descida da Borges.

P / Nanda - Vocês prepararam algum lance especial ?

R / Necão – Aconteceu o seguinte : - Certa noite o Júlio nos chamou na Continental e combinamos que no dia seguinte ,ele iria nos esperar na casa dele para nos mostrar uns casacos , que tinham pertencido ao pai dele , ou avô , eu não tô muito lembrado... mas , aí vai a lenda...os casacos foram usados na guerra republicana dos Federalistas, ou no Vietnã... ou na Revolução Farroupilha...ou na Guerra da dos Confederados Americanos , ou na Batalha dos pioneiros do Arizona...era uma história assim...bem depois que o Júlio nos contou este lance,vestimos aqueles casacos que ” caiu como uma luva”, ...nos sentimos verdadeiros guerreiros do Hallai Hallai, e estávamos prontos para lutar no Colorado , no Novo México, ou em qualquer revolução que aparecesse por aqueles dias... se não me engano tinha também uma camisa amarelo ouro, que nós também levamos para o Robson vestir no dia do Concert em Curitiba . Como eu estava em plena metamorfose , afirmo que este fato aconteceu, os detalhes é que podem ser diferentes.

P / Lucas – E aí , a viagem... “Faço a mala depressa uma promessa não vou quebrar / Sigo pela avenida , aeroporto vou viajar... , seguindo o teu pensamento né , Necão...?

R / Necão – Sem dúvida... esta é a lenda marcada no lombo do cavalo Lee , acompanhado de ternura e chumbo grosso ...tipo ... “Desci o rio , subi as montanhas / Pisei com fé, em terras estranhas . ..(InconscienteColetivo)

P / Fanni – Mas o sino toca ,...(-) e a viagem Necão ?

R / Necão – Me lembro (dentro daquilo quem eu falei pra vocês) ...no Aeroporto
estavam o Júlio ...o Bayar... o Bender ...o Egon ...e se não me engano o Kleiton do Almôdegas... e eu naturalmente, já apresentando nas faces um pequeno vermelho
(Simple Red), com o tratamento “puro “ country na veia... A chegada em Curitiba ,
foi festiva..( fotos , chicletes . coca ...uma massaroca pra ´lá... e pra cá.../ nem a Deus uma prece / era o “Vivendo chegando lá)...o Júlio deu muitas entrevistas...o Bender falou também...eu dei uma fala sobre o Hallai... Á Rádio Iguaçu deu as boas vindas ,tinha também Televisão no meio...enfim... artistas chegando a nível profissional para mostrar o” Vivendo a Vida de Lee”, com patrocínio internacional.

P / Lucas - A viagem de ônibus deve ter sido uma festa ?

R / Necão – Só fiquei sabendo depois, foi uma comemoração toda viagem, mas muito cansativa, alguns chegaram sem voz de tanto cantar...mas recuperaram no hotel e tudo bem... o hotel alto nível 5 estrelas...dentro daquela bruma que me acompanhava , lembro que todos os artistas /músicos já estavam no hotel quando chegamos...todos ficaram em seus quartos afinando os instrumentos...passando as músicas ...se preparando para a grande noite do som de Lee... o som Cotempo já estava montado no “Palácio de Cristal” o Egon e o Geraldo junto com o Anele, já tinham todos os “dbs na mão, a iluminação do Oscar já estava sendo afinada...os efeitos do “missiê” Anele, estavam na ponta da agulha... e a coisa toda , estava anunciando “casa cheia”...o que de fato aconteceu....o ginásio quando chegamos estava no maior “agito”, gente pra tudo quanto é lado....cara de festa mesmo...um acontecimento na cidade..”.Living the life of Lee” .

P / Nanda - E a organização, os músicos, a infra disso tudo ,a logística ?

R / Necão – Digo o seguinte... perfeito...o “Vivendo” tinha uma disciplina de meter inveja a todos quantos se aventuraram a fazer algo semelhante... o Júlio estava no paraíso comandando pessoas de alto nível, com os mesmos objetivos que ele ,ou seja, criar um ranking como balizador de tendências...fora do eixo Rio / São Paulo,sem aquela pasteurização toda ...usando por base , uma nova maneira,traçando e ampliando um novo mercado de música que até então era considerado nulo pelos gaúchos e pelo centro do país.

P / Marco - Este movimento poderia na época ,se conectar ,a qualquer coisa
de interesse direto, para o desenvolvimento de novas mídias , como por exemplo:
rodeios, cinema, propaganda e comércio.

R / Necão – É complicado pensar hoje assim , mas o Mr. Lee tinha na mão,um “Almanaque Capivarol” , com todo breviário pronto para concluir o “Coast to Coast, “e pensar depois num protocolo junto as gravadoras para gravar tudo aquilo e fazer história com o crescimento dos músicos, ou mesmo com a entrada de outros artistas de Porto Alegre ,mas enfim é difícil ter um um olho no peixe e outro no gato,ainda mais naqueles tempos em que todos pensavam apenas numa aventura?!?!

P / Lucas – Necão e a noite como foi ?

R / Necão - Maravilha, inesquecível para todos que estiveram lá, estado de graça para os músicos de Porto Alegre, a noite com a temperatura ideal , todos estavam
a fim de tocar e cantar como nunca;
Eu nunca tinha sentido tamanho astral ... quando o Júlio chamou ao palco o Hallai Hallai...foi a maior ovação que todos nós do grupo recebemos de um público estranho a todos nós...a força do programa do Júlio era incontestável...o Hallai rodava em Curitiba a mil..assim como outros grupos que o Júlio colocava ...foi incrível...não conseguimos nos ouvir na primeira música...e escolhemos para abrir o Concerto, os “ Falsos Deuses”, uma canção complicada de vocal e viola, ainda mais com um violão afinado em “D” , que dava toda a conexão para o vocal a quatro vozes...foi uma grande apresentação...que apagou todos os vestígios dos desacertos internos ,que nós todos estávamos passando...O “Cowboy “ foi festa pura,todos cantavam no ginásio...e assim todos

que se apresentaram mostraram valor musical e o” Vivendo”, cumpriu na estrada seu papel de mudar, por uns breves momentos, alguns comportamentos arrogantes de quem não acreditava no som feito em casa. No final do noite , altas comemorações...altas paparías...e , no dia seguinte levantamos voou para Porto Alegre...e aquela coisa no pensamento , vamos avançar para São Paulo.../

O Júlio me deixou na Salgado Filho, naquela paisagem arqueológica de Porto Alegre, que não era na Filadélfia ,senti aquele quadro urbano envelhecido, deixei aquele “american way of life” e entrei no conhecido “ urban way of life” de Porto Alegre, ....”Volto pra casa esquento café no fogão / tomo café brasileiro / e vejo futebol na televisão...! ( Hermes Aquino) .
Passei o domingo com o pensamento em tudo aquilo que tinha acontecido em Curitiba...o “Vivendo” já não era uma coisa neutra, era credível, não era mais experimental, todas aquelas ocorrências davam a sensação que outro processo estava atuando e que iriam mudar a vida de todos os músicos ...era de fato e de direito uma revolução que estava em vias de acontecer .
O primeiro passo já tinha acontecido...e aquele verniz civilizado já estava em nossas peles.

Chegou a segunda feira , voltei a rotina daquela empresa de homens espertos,
que moravam no Lindóia e tramavam planos para comerem um filé servido em carruagens ...! ? ! ?

A noite , na volta ...liguei na 1120 , e o velho cowboy entra a mil...começando tudo de novo...É aki xará, o som natural de Lee, que balançou Curitiba !
As 10:45 o Mr. Lee ,coloca uma música instrumental do Hallai , “Chuvas “ em rodagem máxima ...
                                                                  Continua...





p.s. estes foram os momentos que o Necão, conseguiu lembrar, com relação ao “Vivendo a Vida de Lee em Curitiba, visto tudo que relatou .

 
Isto aconteceu num final de semana do mês de outubro de 1976.
O material fotográfico e jornais da época se perderam no tempo.
Só restaram estas duas fotos do HALLAI HALLAI /CURITIBA-1976
¨
Marco Silveira (copyrightblogdonecão)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A FILHA DO DR° OZÉAS*





          A FILHA DO DOUTOR OZÉAS

                                                            by*Necão* década 60

Ninguém poderia prever a que horas ela passaria na avenida.
Eu , o Índio, o Zeca, o Lico, o Carlos Baladão,e alguns estranhos a nós;a turma do Agrimer, alguns do Aliança , e outros do Comércio, ficavam também a esperar o inusitado automóvel Ford Perfect (1947), do dr. Ozéas, que todos os sábados , ia buscar sua filha em Porto Alegre, que estudava num daqueles Colégios em que as meninas num “dolcefarniente”, tinham aulas de latim, francês, inglês e eram protegidas dos amores infelizes.



Quando o carro apontava lá no Bar Garça, alguém gritava : é ela ,um silêncio fulminante segurava o último sopro de todos nós, então ela passava como um jato, e depois com um esforço supremo, voltávamos a realidade, e a luz da alma, voltava a acender ... o que tú conseguiu ver... o Zeca bradava, eu vi o cabelo dela, o Índio discursava, pô não deu pra ver nada o dr, Ozéas me paga, não vou mais consultar com ele...o Carlos educadamente , eu vi os braços... o Lico no luxo , as mãos ...que mãos , ela deve tocar piano... eu olhava pro todo , mas não via nada , apenas um vulto , e eu como um náufrago, ficava perguntando como é isso , como é aquilo...enfim !

Todo mundo ficava comentando , levado por um indefinível impulso, toda aquela índole, toda aquela elegância,aquela coisa poética e fidalga da filha do dr. Ozéas.
Aquela “Ilha do Tesouro” em que nós vivíamos por momentos terminava, pois ela morava lá em cima numa casa , que pra nós era um castelo de príncipes e princesas,e que nossa imaginação viajava por ricos toucadores, com espelhos de cristal, com velas côr de rosa muito acima dos primores do luxo.

O engraçado disso tudo, é que ela tinha um lugar especial em nossas cabeças, aquela coisa que a gente guarda na gaveta, e vê, de vez em quando.


O zeca, certo dia fez um desenho da filha do dr. Ozéas,
...me lembro que todos deram opinião pra aquele esboço,
...alguns achavam que tinha de colocá-la num chambre de seda...na parte superior , abaixo da gola um brazão de ouro com um lindo monograma bordado
“A Filha do dr. Ozéas.
                                                                             
Os cabelos lisos natural, tipo assim Natalie Wood, (West Side History);as mãos de Stravinski,longas e cheia de dedos, pra colocar os anéis mais finos da Joalheria Líder, a mais cara da cidade.
Tudo com muita arte, os pés ágeis de bailarina ,um turbilhão de imagens misturados a fábulas antigas de carruagens escarlates, com muitos enigmas.

Tudo era cintilante, e todos chegavam a sentir no ar o perfume da Coty, quando o assunto era a filha do dr. Ozéas.

Nunca chegamos a conclusão unânime quanto ao rosto e ao corpo, ficávamos exaustos de tanta discussão, fizemos até num domingo, uma” campana” perto da casa dela , mas só de longe ela aparecia por entre as cortinas daquelas janelas de cinema.

Ela não freqüentava os Clubes da cidade, raramente saía pelas nossas ruas, a gente pensava nela olhando as estrelas, as flores, nos cartazes do Cine Imperial,ou em alguns versos que de vez em quando a gente ameaçava fazer.

Ela não era aquela coisa de amor eterno, a turma toda pensava nela como uma valsa, um primeiro raio de sol ,naquela cidade que nos acordava aos poucos por detrás dos muros de nossas fantasias de guris.


A nossa comunidade tinha três médicos ...dr.Paulo, dr.Erwino e o dr. Ozéas, este era especial, quando a gente avistava ele na faixa, o assunto era falado á noite, a filha do dr.Ozéas.
Todos dormiam sonhando com a festa nupcial da filha do dr. Ozéas , (-) aquela incrível situação durou alguns belos anos, aquele verniz da nossa juventude encontrava na filha do doutor ,momentos para “papos” de imaculada pureza em busca daquele mistério que ficou inalterado ,pois nenhum de nós, viu de corpo inteiro a filha do doutor Ozéas...talvez o Lico tenha visto , mas não nos contou !

p.s. Quando , pela primeira vez eu vi a foto da Ana Paula Arósio, eu pensei comigo...É a filha do Dr. Ozéas .?!?!(-)