segunda-feira, 13 de abril de 2009

DEPOIMENTO * ( 2 )



VIVENDO A VIDA DE LEE /RÁDIO CONTINENTAL .
(depoimento 03.04.2009)

VIVENDOLOGIA DE LEE

p/ Marco – Como vocês chegaram na Continental ?



R – Necão - Depois da apresentação do hallai-hallai nas “Rodas de Som” ,o grande camarada Laurinho, que trabalhou também na formatação do projeto do Teatro de Arena, ficou entusiasmado com o nosso som, e fez contato com o Júlio Furst ... ,ele disse assim pro Júlio , já que eram grandes amigos naquela época : -Júlio foram uns caras lá no Teatro de Arena, com umas violas DESTE TAMANHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
e, eles tem dois metros de altura , eles são a cara do teu programa, pode gravar que eu garanto, É UMA BANDA DE VOCAL, E TEM O NOME DE HALLAI - HALLAI ! Foi assim que fomos apresentados pelo Laurinho, que tem uma história também de música , pois foi o baterista do “Som Quatro” banda que revolucionou a maneira de tocar em reuniões dançantes , naqueles anos do som “beat”... Laurinho era o batera, a guitarra/solo era o Cláudio Vera Cruz , Hermes Aquino /guitarra base e o Português fazia o baixo...grande banda !

p/Fanni – Conta os detalhes do primeiro “papo” com o Júlio ?

R/ Necão – Foi em setembro /1975 ...,saí do apartamento que eu morava na Salgado Filho, passei na frente do Cine Victória, pensando em tudo até então..., as coisas eram muito diferentes de hoje...,a década de sessenta e setenta carregava uma energia megaton,por mais alienado que você fosse, tudo alimentava tua mente..., e você procurava informações nos livros ,no rádio , nas telas de cinema,nas bibliotecas, nos papos de esquina ,nos meios em que você tinha acesso, empréstimos de discos de amigos, tudo estava ali, mas você tinha que ir atrás. e não existia dinheiro nenhum, ,mas não sei o que acontecia as coisas fluíam e não coagulavam. Tudo
isso sem internet , sem celular e sem satélite.

Depois do "Rodas" , abriram -se 03 caminhos :

a) Continuar com a identidade do Rodas de Som , tipo assim: - Som de Porto Alegre com toda aquela onda teatral do Arena , o que já tinha acontecido em São Paulo, no Teatro da “Tuca”, ali no bairro das Perdizes,...lembra do “Roda Viva”, toda aquela estética MPB.,com os poderosos lutando contra os artistas, mas com a finalidade de tentar trazer para o seu lado na marra, todo aquele movimento contra cultura , que foi fundamental , o que a história mostrou depois. Isto seria um grande lance , mas faltou alguém de visão ,que levasse avante a continuidade daquele projeto, já que o Hartlieb saiu para cuidar de sua carreira.

b)Outra possibilidade era confeccionar seu próprio passaporte de músico gaúcho, como alguns já estavam fazendo (Nei Lisboa,Vitor Ramil, Bebeto Alves ) e pedir ajuda para o Juarez Fonseca que tinha o jornal “Zero Hora” , na mão.

c) A terceira opção : Vivendo a Vida de Lee !

1975 - O QUE SÃO OS NOSSOS TEMPOS ?
QUAL O INSTRUMENTO QUE TEMOS PARA TRABALHAR ?
O QUE É O VELHO ? O QUE É O NOVO ?
O QUE É O PERMANENTE?
PRECISAMOS EXAMINÁ-LOS ?

... quando entrei no edifício da rua da praia,1155 , o prédio da rádio Continental, um relâmpago passou pela minha cabeça..., sabe aquela história “ela é virgem mas morou no Rio”..., pensei assim ...estamos vivendo uma época de muitas influências e a imprensa atual esta com um pé num nacionalismo cego, nada escapa da fúria anti americana, e a música e a arte que não tem nada com isso , também serão apedrejados, não vão escapar dos mesmos , que ,hoje, são (2009), representados pelos que proibiram Isabel Fogaça de cantar no estádio Beira Rio, a canção “Porto Alegre é Demais”.
Dentro da Continental existia este “ciuminho”,em relação a Júlio Furst e os músicos que ele comandava.

SER OU NÃO SER ?

Eu, estava entrando na casa do “Mr.Lee “, ou seja , estava na beira de uma coisa, com espírito americano , numa época confusa, e o Hallai poderia ficar com esta imagem pra todo sempre em Porto Alegre.
Mas , espera um pouco ... eu , já tinha atirado uns grãos de terra no solo Russo , através do meu avô , velho comunista que lia a Gazeta Comunista nos anos 50 , e plantava batatas no fundo do quintal .
...mas isso é pouco...pensei ! ( - )...ôpa...tem mais... , meu irmão mais velho participou do grupo dos “11”, na Legalidade do Brizola , esta é muito boa ! ( - ) , mas... eu?..., Espera aí...( - ) ... fui presidente do Grêmio Estudantil Ezequiel Nunes , no congresso estudantil da UNE .,. em Uruguaiana, que foi o último, depois da extinção...mas , olha as letras das músicas que eu estava levando para o senhor LEE .

“GOOD-GOOD NIGHT , CINZENTA AMÉRICA !
GOOD-GOOD NIGHT OPACA AMÉRICA !
DO HOMEM OURO, DINHEIRO , MONEY”

Outra...

“ ESTE VENTO MINUANO, ESTE VENTO MINUANO ,
GUASQUEANDO NO CENTRO ...
DESCENDO A BORGES DE MEDEIROS
DESCENDO A BORGES DE MEDEIROS ,
EU SINTO O COICE QUE O CAVALO NÃO DEU “!

Outra ...


SÓ ,´/
“ ENTRE MÁQUINAS / ENTRE MORTOS/
NA LAGE FRIA/ ENTRE FALSOS DEUSES /

Pensei ...( - ) ´preciso ainda de um modelo ...( - )aí , busquei nas velhas leituras lá de casa, um escritor acima de qualquer suspeita: - Érico Veríssimo ! Olha só
as influências :- Ibsen , Pirandello ,Anatole France, Aldous Huxley ... aquele peso saiu de minha cabeça ?!?!



P/Lucas – Como tu explicas, este papo de ameaça de bomba na Conti, eu li, e fiquei em dúvida, afinal uma rádio que tinha programas tipo ,Cascalho Time , que só rodava musica black , Mr. Lee , que apresentava o supra sumo do country americano, a programação da rádio era predominantemente estrangeira (americana), no meu ponto de vista existe contradições ou isto tudo não passou de um “midlle of the roader”?

R/Necão – Uma vez recebi uma mensagem via correio,que chamava todo mundo de entreguistas.“Voces estão sentados no colo dos americanos”..., alguma coisa vai ficar sem resposta, como é que uma rádio que rodava 80% de música americana foi ameaçada por bombas de direita? Agora tem uma coisa, por isso que eu falei, que quando eu estava subindo no elevador pra falar com o Júlio, eu pensei em todas aquelas situações políticas que estavam a nos rodear..., mas Porto Alegre sempre teve este lado política e músicos , mesmo que o programa se chamasse Mr. Russo ,as coisas aconteceriam também assim: "Vocês estão sentados no colo dos russos”. Este, no meu modo de ver as coisas, é um dos problemas, que anula a possibilidade, de até hoje, Porto Alegre não ter conseguido formar um mercado musical independente da política e de políticos, ou você toca para Mr Lee ou toca para Mr Russo, com patrocínio dos barbudinhos de Dostowiesviski , ou dos barbudinhos do Bruce Springsteen. ...Isto mostra esta rota de colisão que você falou, como é que a Continental iria renovar um contrato com a Lee que representava o modo americano de vida (way of live) ,se os próprios diretores se apavoraram de terem sido ameaçados por bombas de “direita”...alguma coisa realmente não fecha...outra coisa , os diretores da Continental eram de “esquerda” ou de “direita , pelo que entendi eram de “esquerda”, mas quem alimentava eles, eram a “Lee “ , a “Gaúcha Car”, Bancos , Financeiras , Agencias de propaganda, que vinculavam toda e qualquer mídia da hora , dentro daquela onda ‘muderna” da Conti. Hoje (2009) o slogam da Continental deveria ser este : CONTINENTAL, A RÁDIO MIDLLE OF THE ROADER dos anos 70 !



P/Marco – Vamos voltar ao elevador que estava subindo, pois está na “cara” , como disse aquele presidente americano : " Se a lenda é maior que a história publique-se a lenda".

Perguntei ao ascensorista qual era o andar da rádio Continental ? Me parece que ele apertou no botão do 5º andar . O elevador foi subindo com todas aquelas energias que eu carregava ,e que também todos os músicos que passaram por ali levaram para dentro da Continental .Não tem preço que pague...me lembrei do primeiro programa de rock da Rádio Pampa ,“Hoje é Dia de Rock “, que tocava Bill Halley e seus Cometas , Elvis Presley, Pat Boone ,(1963)...Little Richards uma pá de gente...Brenda Lee , ...foi antes de tudo ...a gênesis ...depois veio aquela
hecatombe junto com os BEATLES, geração hippie, os festivais da Tv. Record , a música brasileira depois da dor de cotovelo, bossa nova, Edu Lobo,com aqueles acordes em menor, os Mutantes e aquelas guitarras “feita em casa” .
o Liverpool, banda gaúcha que tocava a música Marta Saré em reunião dançante, e logo em seguida mandava “My book pages” dos Bird´s, pra depois cantar –“No dia que eu vim me embora...minha mãe chorava em uí....meu pai chorava em aí....e , eu não olhava pra trás...,do Caetano , tudo em reunião dançante.

...Nashville Skyline do Bob Dylan , já tinha escutado e já sabia daquela música, “Lay lady lay “, ( Deite-se Senhora, deite-se).
Ainda hoje , sempre falo da “Girl fron the north country” ,a garota que veio do norte do Johnny Cash, que marcou aqueles dias sonolentos no bairro da Glória. Aquela onda ia junto no elevador, subindo ...subindo ... até o quinto andar da rádio do Roberto Marinho. Estava na moda o Carlos Castaneda, “ A erva do Diabo “, Viagem a Ixtlan, Uma estranha Realidade,..., o festival de Woodstook já tinha me antenado , a cena final do “Easy Raiders ,(1969) brutal, aquele livro do Huxley , ‘Admirável Mundo Novo, que fala da destruição da individualidade e que sempre permaneceu ‘cult’, já estava rolando .
... o James Dean , o Marlon Brando, a Brigitte Bardot, os filmes franceses que passavam no cine Ópera da rua da praia já tinham me ensinado a arte do cinema, já sabia também que a tropicália foi uma cola do disco dos ‘Beatles’ , Sgt.Papers , I red news today o boy – .... /About a lucy man who made the grade / ‘’…,( eu li uma notícia hoje meu amigo, sobre um homem de sorte que se formou ), a poesia concreta , fonte de inspiração para a tropicália, todos os ícones de quem acordou , quem estava vivo iam subindo comigo naquele elevador.

...,quando me dei conta estava na frente do Júlio Furst que estava falando com o Zé Flávio, do grupo Mantra.

- Tinham uns sofás assim na entrada da rádio, antes da recepcionista e ali estava o cowboy.

Engraçado que eu perguntei pelo Mr.Lee, e o Júlio respondeu : - Sou eu !
O Júlio era a própria lenda do Mr. Lee, de bigode e suiças, cabelos quase compridos, me lembrou muito os mocinhos , que salvavam as mocinhas nos finais dos
épicos filmes americanos... Alan Lad , Audie Murfhy, Joel Mccray,Randolfh Scoot . .. tudo aquilo que embalou minha infância , vindo das telas e dos gibis.



A música “Cowboy” , que fizemos eu e Paulinho, começou na verdade ,a partir daquele momento, e que foi composta e inspirada muito depois, numa viagem que o Júlio fez a Nova Yorque, e que quando chegou disse: Pô bicho, eu viajo aos Estados Unidos e parece que vocês e´que tiveram lá ! Esta musica sem dúvida começou a nascer no primeiro dia em que eu vi o velho cowboy (mr.Lee) , e que se transformou num dos hits do” Vivendo vida de Lee” .

Depois que me apresentei, o Júlio foi de extrema cordialidade, e disse assim : Não preciso nem ouvir , vou te presentar o Anele, e combina com ele a gravação ,pois o Laurinho já me falou de vocês.

Naquele momento o Júlio começou a nos chamar de Hallai –Hallai, colocando “R” na pronúncia do “H’,a gente não colocava “R” ,na pronúncia do “H”.



P/Marco – O Anele, como era esta figura, Monsieur ?

R/ Necão - Anele era meio parecido com Charles Asnavour, e tinha uma pronúncia afrancesada , carregava nos ” erres”, uma grande figura, que começou nos olhando assim ...assim , mas depois de ouvir o som, colocou seu coração na mesa Ampex e gravou altos sons pra violão . O Anele tinha uma característica, depois das 6 da tarde , ele ficava falando baixinho com as estagiárias pelo telefone , e ai de quem chamasse o “missiê” naquela hora sagrada,...eu acho que ele casou com uma estagiária,...um dia ainda desvendo este mistério.?!?!

P/ Fanni – Mas voltando ao ponto, como era esta relação , Mr.Lee, e a Rádio Continental ?

R/ Necão – Te digo assim, o Júlio estava em FM , já naquela época, e a Continental em AM/ ...O Júlio liderava tudo dentro da rádio, as próprias músicas do ´
programa, o Júlio trazia de sua discoteca particular, a Continental não tinha um acervo assim tão vasto e avançado...no repertório local do “Vivendo”, o Júlio nunca colocou censura, apesar de ser um cara super exigente, ele deu liberdade total a todos, muitos não rodaram dentro do programa por motivos de qualidade e “xaropagem” mesmo .Eu aprendi com o o “ Vivendo Vida de Lee”
Grito + música européia = BLUES
Blues + instrumentos europeus = JAZZ
Blues +piano = BOOGIE – WOOGIE
Blues + guitarra elétrica =RHYTHM & BLUES
Rhythm & blues + compacto 45 rpm = ROCK ‘N’ ROLL
Rock ‘n’ roll + LP = rock
- DISCO / RÁDIO / AUTOMÓVEL / TELEFONE / ... 1975 !



Na documentação daqueles tempos as idéias gerais, quando entravam na rádio, formavam um arcabouço,e quem tinha um norte, e estava preparado pra aquelas idéias , usufruía de tudo aquilo, e quem não estava de calça lee, procurou trocar aquelas calças de tergal e entrar na onda, e quem não entrou, ficou olhando de ‘vesgueio’, tipo assim: Musica ao Longe !
– O Júlio foi o cara daquela época que mudou a cabeça da Continental , com apoio da Lee / visão que a diretoria da Conti , não teve quando da renovação do contrato com a fábrica de jeans...não existia nada conceitualmente melhor na época...o esfriamento da Continental que tinha um estilo predominante novo , foi melancólico e careta, aquela energia do Júlio e dos músicos que marcaram o seu começo, ficou suspenso dentro da pasta “A REVOLUÇÃO QUE NÃO HOUVE” “ ela foi do sonho somente até o pesadelo.

...mas a fila anda, como dizia Frank Zappa : “Tudo se repete fica apenas um punhado de velhotes em trajes de rock and roll sentados no estúdio resmungando sobre os bons tempos. Daqui a dez anos vocês estarão sentados com seus amigos em algum lugar fazendo o mesmo, se ainda houver alguma coisa para sentar em cima”. – Por isso é preciso um questionamento, vindo da visão dos músicos, que viveram o movimento e não estão sentados como disse o “Zappa “, só falando de sonhos legais e resmungando sobre coisas que não aconteceram...,eu nunca aceitei isto, esta “fatalidade histórica”, que colocou no lixo, sonhos de todos os músicos e artistas do “Vivendo”. Estas´mazelas da história, por mim, jamais vão se transformar em algo atávico e inexpugnável...por isso existe o contraditório para colocar na “roda”, perguntas , mesmo que sejam jogadas ao vento por um cara que formou uma banda de vocal do final da linha do ônibus, que sonhava um sonho , mas que tinha uma rádio “barba azul” ,que ficou no meio do caminho perdida em rota de colisão com seu próprio umbigo . A rádio “midlle of the roader” , dos anos 70 !

“Em chamas/ O peito explode a cada passo /
Entre máquinas / Entre mortos /
Na lage fria /Entre falsos Deuses /
Há...há...há...há...há ...há...há...há
..háaaaaaaaa !

... Esta música rodou muito na Continental , e eu fiz inspirado nela... A rádio “midlle of the roader” dos anos 70 !
P/ Nanda – Quais as perguntas que você lança para algum estagiário do futuro que ao pesquisar sobre a Continental do “Vivendo a Vida de Lee “, (l975/l976) , possa responder pra ti ?

R/ Necão – A resposta meu amigo leva ao vento que passa , a resposta leve ao vento que passa ...salve Dylan...talves estas perguntas nunca sejam respondidas, fiquem eternamente no vento...mas vamos lá.

1- O movimento “Alma beat”, dos poetas que levavaram Ferlinghetti a lança-los na sua própria editora, vingou .
2- A bossa nova que saiu de dentro de um apartamento no Leblon, vingou.
3 – A jovem guarda ,,,vingou.
4 - A Tropicália ...vingou.
5 - Os festivais da Record,,,vingou.
6 - O samba fundo de quintal...vingou.
7 - O axé music ...vingou.
8 - O movimento de musica sertaneja ...vingou
9 - O funk das favelas do RIO...vingou
10 - A eguínha Pocotó ...vingou... eu poderia “ad eternum “ ficar aqui falando sobre movimentos que nunca tiveram uma estrutura que a Continental tinha, e que funcionava numa capital que apoiava totalmente, até idéias infelizes . A cidade estava a procura de criatividade, tudo se concentrava , por estas coisas do destino , ali na rua da praia 1155, e a rádio era filiada a rede Globo.
Dentro da Continental existiam vários mundos divorciados, que estavam lado a lado, mas separados. Esta é a mais pura verdade !



P / Lucas – Quantas coisas poderiam ter sido feitas, por exemplo, o Hallai-Hallai e o Inconsciente Coletivo eram os únicos que faziam o folk / porque não gravaram juntos pelo menos uma música, hoje seria uma raridade , e também um documento do movimento .Outra coisa que não dá para entender, não existe registro gravado dos concertos do Mr.Lee..., vide as lotações nos teatros e as audiências da rádio na época. Cara, vocês chegaram a Curitiba, com som local feito em P.Alegre, numa gravadora de dois canais, numa rádio AM , em fita cartucho...pô ! nenhum “elepezinho” do “Vivendo” , já que os representantes das gravadoras viviam dentro da “super quente”, a rádio da moda, que recebia mídia das principais agências de Porto Alegre , com pagamento em cruzeiro mas com valor de dólar . Não entendo ?

R / Necão – O pior é que a Continental terminou igual a Rússia, ...um tapete velho e poído , sem um tiro, um barulho algum , e sem cobranças por parte de ninguém .
Eu tenho certeza que a parte mais dramática para quem trabalha com marketing, foi a reunião que o BENDER fez para renovar o contrato com a Continental... , olha só
o que estava ma mesa....Concertos “Vivendo A Vida de Lee “, com consagração além fronteiras ...a peneira sobre as tendências musicais ,também já estava feita...os músicos já estavam preparados para saltos maiores...um disco poderia ter sido produzido registrando todos os “Concertos”,...os representantes das gravadoras estavam praticamente todos os dias na rádio....tudo tinha sido colocado a prova durante um ano na rádio e nos concertos da Lee ...os jingles sobre o produto Lee,estavam sendo produzidos pelos grupos Hallai e Inconsciente Coletivo ,...existia uma harmonia musical entre os músicos que mais trabalharam para a Continental onde lê-se “Mr.Lee( Júlio) ,Anele ,Hermes Aquino, Fernando Ribeiro,Gilberto Travi e o Cálculo 4 ,Inconsciente Coletivo, Hallai – Hallai , Mantra, Almôndegas , Toneco e o Ego da Eger .
A MIOPIA E A POLÍTICA DA MAÇÃ MORDIDA ,FEZ COM QUE A DIREÇÃO DA CONTINENTAL PENSASSE ´PEQUENO E NÃO CONSIDERASSE, NEM POR UM SEGUNDO OS MÚSICOS DE PORTO ALEGRE, E TODO MOVIMENTO.
.
Desde aqueles tempos que a mídia eletrônica( rádio,tv), não tem dono , são concessões, então as coisas não poderiam ter sido resolvidas a portas fechadas , estando na mão de uma pessoa a decisão de sonhos construídos também pelos músicos de Porto Alegre. Se existe um erro crasso histórico, este foi feito pela Continental nas nossas barbas,pois nós todos estávamos ensaiando, pensando em novas músicas para colocar mais fermento no bolo.

P / Fanni – Me diz o seguinte, não apareceu uma mente naquele momento da decisão para por ordem nas coisas?

R / Necão – Nenhuma daquelas pessoas tinham idéia sequer do potencial do que estavam criando.Ninguém tinha o controle da coisa. Ninguem, tinha o mapa inteiramente, as coisas eram em pedaços. Agora o seguinte a vida tem coisas que não dá para entender,o destino sempre coloca obstáculos, só para nos pôr a prova.
Olha só , Jorge Luís Borges , foi diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, nesta época depois da queda de Perón, já estava praticamente cego, e quando assumiu o
Cargo disse: "DEUS ME DOOU AO MESMO TEMPO 800 MIL LIVROS E A CEGUEIRA".

P/ Marco – Por que esta polêmica não foi levantada na época ?

R/ Necão – São os fatos , a história que criam as formas e não ao contrário, o pessoal do Hallai esperneou, falou um montão de coisas, o clima não ficou propício , houve uma espécie de “ boicote” , por parte de alguns ...me lembro, um dia em que eu estava na “Benjamin “e surgiu de dentro de um automóvel, uma cabeça com um grande sorriso, e com os braços pra fora, em clima de grande entusiasmo, como que concordando,com tudo que estava sendo falado e principalmente apoiando o grupo Hallai...era o João Antonio do Inconsciente Coletivo , aquilo pra mim foi uma resposta, de um grande músico, que viveu a vida de lee, com consciência. O capitulo terminou ali pra mim , voltamos a ensaiar e pensar adiante . O maior erro publicitário de todos os tempos, o “ banquete dos mendigos” músicos de Porto Alegre estavam servidos na mesa, mas a Continental jogou fora . ... e aquela frase do Lennon na canção “Revolution” , me deu a resposta naqueles dias de tristeza ...ela diz assim ...”Ora você sabe/ O melhor na verdade é libertar a sua mente /
/We-el you know/You better free your mind instead /

P/ Fanni – Olha o seguinte...na canção dos Stones, “Street Fighting man” ,tem um verso que define bem esta fase vivida por vocês / “ But what can a poor boy do/ Except sing in a rock “n’ roll band/ Guess in sleepy London town theres just no place for a street fighting man/ …ou seja…
Mas que pode um pobre garoto fazer/ Exceto cantar num grupo de rock ‘n’ roll / pois na sonolenta cidade de Londres (Porto Alegre), não há lugar para um homem de briga de rua/ ...aplausos ... viva Lennon ...viva Jagger ...!

...continua!
VIVENDOLOGÍA DE LEE

PLANETA OSWALDINA*




Escritos da revolução permanente ...
                                                                                          by*necão


Um pássaro... um avião ...o super homem...,nãaaaao... é a minha tia Oswaldina !

Além de tia , ela era minha madrinha...,engraçado que ela estava sempre com a cabeça no ar...pra lá de Marrakesc era perto demais , ela andava em altas esferas pra lá de Plutão, além da vida; sempre !

Ela tinha a boca pequena, e em certa época usou um dente de ouro , muito moderna na década de 40, tipo assim silicone nos dias de hoje.

Agora, tinha o seguinte, quando chegava a vez dela falar ,era como um zoom, aterrizava no planeta terra e transformava a todos em extraterrestre , não tinha pra ninguém, dava conselhos ,desconfiava de certas verdades e não pregava prego sem estopa.
Eta ...eta...a casa da tia , começava logo após o portão, depois vinha o pátio longo, cheio de árvores frondosas, cheio de latinhas pelos cantos com florzinhas plantadas , dentro da casa a gente sentia um certo mistério simples , na verdade, não tão simples assim, mas no fundo simples mesmo.

A querida tia Oswaldina , casou com o inesquecível tio Janjão , um personagem dos livros do Monteiro Lobato, claro que não deu certo, era a vontade de comer , com a vontade de não comer. A madrinha teve duas filhas , a Dilce e a Maria Aparecida. A Dilce sempre foi considerada assim a Barbie, casou com um funcionário do Banco do Brasil , que na época era o grande barato , quando assim não fosse, a filha que casava com um militar, também era muito respeitada pelos parentes...óh ...ela conseguiu ...será feliz para sempre !
A Maria Aparecida levou da madrinha os mistérios, mas sofisticou os segredos , desapareceu no mundo, e do olhar de todos .

Me lembro, quando me apresentei no Teatro Leopoldina,a tia Oswaldina foi assistir , isto foi na década de setenta no “Vivendo a Vida de Lee “ , pra mim foi uma surpressa, lá estava a tia com aquele rosto familiar no meio daqueles Jovens ...grande tia ...nunca vou me esquecer disso.

No início da décaca de setenta me casei, e todas as minhas tias foram ao casamento, mas a tia Oswaldina arrasou.Chegou com um chapéu , Janis Joplin e com uma saia hippie, que parecia
 um adeus, da última apaixonada da terra.

Antes dela partir para o mundo, em que ela sempre esteve,aconteceu algo que eu nunca vou esquecer, ela me deu de presente o disco THE WALL do PINK FLOYD, ...saí com aquele LP., nas mãos da rua São Sebastião do Caí,me achando o cara, e fui todo feliz pra casa, pra escutar aquela preciosidade... a primeira música que escutei foi a canção “GOOD-BYE BLUE SKY..., hoje tenho certeza ,que a minha querida madrinha OSWALDINA ESTA NUM PLANETA COM A COR MAIS BONITA QUE AQUELA QUE O PINK FLOYD ESTAVA DANDO ADEUS !