quarta-feira, 2 de março de 2011

*HALLAI*HALLAI* - LENDA URBANA ( 04)

Mr.Robson /by Necão / Jorge Hill / Paulinho Velho Tchêrife
Se a existência humana se resume no problema do Bem e do Mal, eis aí 4 rapazes do Bem !

HALLAI*HALLAI ...A  LENDA...
                                                                       by*necão

 
Não consegui dormir naquela noite em que jogamos tudo ao mar, apesar de toda brincadeira, na verdade  algumas figueiras  ficaram boiando naquele oceano primevo.

Encontrei o “Velho Tchêrife” no convés, puxando um charuto cubano !
Paulinho, já tinha  tido algumas pequenas digressões nas noites dos bailes em “Sampa” , estava ali pensativo preocupado com o dia de amanhã !?!?

E agora Necão ? ...quando a gente chegar pra onde vamos...?

O “Velho Tchêrife” sempre pensou no amanhã..., a caixa preta do amanhã..., como conseguir um abridor de latas para descobrir segredos tão escondidos?

Todos os dialetos, a física , a química, a astronomia, a teologia , o árabe e o esquimó ?
- Calma “veio, uma coisa de cada vez..., vamos curtir estes momentos  que estão passando pelo casco do navio.

Jorge Hill e Mr. Robson chegaram com aquelas “caras de laranjas colhidas no pé com a taquara, lá no fundo do quintal”. Esta é a sensação que eu tive, como se eles tivessem sido arrancados de suas origens.

Em suas testas a legenda : “ Não devíamos ter atirado nossas bagagens gaúchas ao mar”.

Mas enfim , fomos tomar café , e a alegria voltou  com Jorge Hill contando “estórias”  dos irmãos  portugueses, todas elas impregnadas de Joaquins , Manuéis e padarias do além mar !

Pensamos em nossas “Rutes” que ficaram na pequenina cidade de Porto Alegre, guardadas pelas tradições de nossa terra, éramos Baltazares inspiradores de nossas musas .

Engraçado que toda literatura riograndense continuava e sustentava nossas cabeças, apesar de todo o colonialismo que habitava nossos espíritos e mentes,
antes e após o “Vivendo”.
Mr. Robson sempre com sua narrativa no mais profundo silêncio, as vezes sorria e abria o coração falando da grande aventura que estava apenas começando, mas que o sonho de nossas cabeças sempre levava mais adiante..., a gente na verdade já estava na 5ª temporada , tal era a confiança e a certeza
de que tudo era uma questão de bater na porta e entrar.

O  Contramestre anunciou : " Estamos chegando no porto de Registro, cidadelinha que pertence as terras de São Paulo".

O relógio marcava meio-dia , o tempo estava nublado e triste, e um frio de leve
soprava um vento sudeste que vinha dos bananais daquele lugar.

Descemos a terra  e sentimos que tínhamos comido o fruto proibido e que  isso tinha nos expulsado do velho Paraíso !
As exclamações eram várias: - Nunca ganhanos dinheiro com a música no sul !
Estamos sós ..., com nosso violões comprados na Mesbla , nem contrabaixo temos, nunca olhamos a música politicamente, sempre fomos frutos fáceis , eternamente otários.

Meu pensamento correu de um extremo ao outro: - Lembrei-me de vários artistas de Porto Alegre que eram badalados por jornalistas e gente do meio...,
Tipo assim :- Secretários de Cultura, Bares, Jornalistas,Políticos , Partidos Políticos, locutores de rádios, cadernos de jornais, etc..., e que na verdade era tudo insípido, enfadonho e monótono , tudo mentira para satisfazer seus verdadeiros instintos mercantilistas para usufruírem do que lhes interesassem, o  que na verdade era suas próprias carreiras na aldeia.

Me lembro que existiu um grupo em nossa cidade chamado DESENVOLVIMENTO,
Ana Mazzoti e Tijolinho , Lembram ? Todo mundo badalava , eles tocaram em todos os lugares que se possa imaginar em Porto Alegre e Interior. Todos elogiavam rasgadamente estes músicos, só que eles não ganharam dinheiro algum.
 Naquele época eu representava uma Empresa de São Paulo em Porto Alegre, e foi exatamente lá que o baterista Tijolinho foi pedir ajuda para se mudar para São Paulo..., de imediato mandei que os encarregados fossem fazer a coleta na casa de Tijolinho, e transportei seus pequenos pertences
para São Paulo. Cobramos um mínimo, absolutamente nada, só pra preencher a minuta para que os fiscais não complicassem nos postos da BR.

Lá se foram a Ana e o Tijolinho..., nunca mais ouvi falar deles, a não ser da triste notícia que a Ana não tinha resistido e tinha partido para o verdadeiro
Nirvana !

O Navio deu o sinal , parecia um cão começando a latir e  pulando em volta,
avisando aos marujos do Hallai*Hallai , que a viagem ía seguir em busca do ponto final..., da “varinha mágica” , que estaría a nos esperar para satisfazer nossso desejos mais puros, o de gravar um disco nos Portos da Cidadela de São Paulo.


Continua...