quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

- OS OLHOS DE AUDA - (1)


 
Pelas frestas da cerca de madeira...

                                                   by*necão

Creio que se trate de um caso excepcional , talvez um caso tratado na “Pedra da Bruxa”.
Talvez” pegadas de fada”, de uma pessoa mítica , mas confesso que de vez em quando,  em algum lugar , vejo os olhos de Auda.
Quando fui presidente do Grêmio estudantil do Colégio Loureiro da Silva,
fomos convocados  para participar do Congresso da UNE , que foi realizado em Uruguaina(RS).

Lá,  fomos nós, de trem Húngaro , velha Maria Fumaça que cortava as antigas estradas de ferro do Rio Grande do Sul.

Com grande perplexidade , alguns conceitos sobre carteirinha estudantil,
e  com outros assuntos relevantes da época (anos 60) censura, presos políticos, liberdade,cidadania, etc..., embarcamos no trem, eu (presidente), Lico (secretário) Marco Moraes (assuntos gerais).
“Se você perder o trem / Vai saber que eu já fui /  E o apito além da serra /
Vai ouvir” ...ao som de Peter , Paul and  Mary, subimos naquela máquina de madeira e de ferro , cantando estrada fora.

A viagem foi cheia de emoções baratas, o trem só tinha estudantes da grande Porto Alegre, altos papos, muito som no violão, muitas discussões sobre tudo ou quase tudo.
Falava-se  em Carlos Lacerda, Juscelino ,João Goulart , Brizola, Nara Leão, Cacá Diegues, Danuza  e Samuel Wainer, Chico Buarque, militares,
a burguesia nacional, Glauber Rocha... tudo ao som do violão!

Um “bando” de gurias de” São Léo” , encarnaram ...pronto...,
a festa estava formada... na madrugada, o tempo era passageiro como nós , ao cheiro daquela fumaça branca que passava pelas janelas do trem
rumo a terra prometida que iria libertar o Brasil, da miséria , da fome  e do analfabetismo!

O Rei da Vela, José Celso Martinez, Caetano Veloso, todos estavam naquele trem em espírito, assistindo as nossas performances ao som
de” Eve of Destruction” do Barry McGuire!

A energia era tanta, que por vezes ouvíamos o som do alfabeto Morse,
batendo naquelas rochas de noite escura, onde a lua também nos seguia.

Era uma mistura perfeita, política, música , gurias” longe de casa”, lanches do trem, barulho  da lenha queimando, combustível ecológico
do Rio Grande,  para aquela máquina genial- dinossáurica nos levar ao destino.

Não tínhamos a noção de finalidade, só a ilusão daquela noite geográfica
cheia de aventuras, dentro daquele trem de noite enluarada. (que também mandamos no violão aquela canção de Marcos Valle).

“Mão , violão canção , espada e viola enluarada ! 
  Pelos campos e cidades “!

Mississippis, via-láctea, bisões, coiotes, todos naquele trem interplanetário rumo a Uruguaiana,  fronteira desconhecida.
Over /
  And over /
  And over /
  And over  gain , my friend /
  Ah , you don’t believe were on the eve of destruction !
                                                                        (B. McGuire)
 

                                                                                                               continua...