sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

- OS OLHOS DE AUDA (4) - Hábitos não Codific@dos -


- Auda , os olhos com a forma de dirigível -

                                                       by/necão

Saímos do comitê, e fomos caminhando e cantando rumo ao QG .,...laia...ladaihá...sabadana ave Maria !
Quando chegamos no portão da guarita, já estávamos na canção... "Olhe o arrastão chegando no mar sem fim / é meu irmão me traz Yemanjá pra mim !"

Entramos, e fomos recebido por um sargento, todos nós cansados e com fome .

Ficamos nos alojamentos dos soldados como “et's” . Todos nos olhavam com certas reservas, mas todos foram gentis.

A noite já descia alta , quando jantamos nos salões dos primeiros escalões do exército brasileiro.

O dia começou pra nós as 7:00 horas, a corneta tocou e levantamos juntos com os milicos. Tomamos café, e fomos para a  primeira reunião do Congresso Estudantil da UNE.

O local foi num clube perto do Cine Pampa, super luxuoso e de tamanho imenso .

Voltamos num segundo a realidade que tinha nos levado aquela reunião de jovens testemunhas de um tempo extraordinário, independente de algo consistente ou não, mas que naquele momento se tratava de fatos que demonstravam aonde poderíamos construir , pelo menos  nosso pretenso futuro.

Fizemos algumas pautas antes de viajar, carteirinha estudantil , ( responsabilidade do Grêmio Estudantil e não do Colégio) ,extinção da taxa de matrícula ( os Colégios públicos cobravam uma taxa naquele época), opção de desfilar ou não em" 7 de setembro" para os alunos do noturno).

Mas o Congresso da UNE mostrou pra nós, outra realidade. Quanto mais radical você fosse , mais moderno você era, mais incomum , mais autêntico. Nas assembléias só de falava no “Partidão” . Todos só perguntavam , qual é a sua linha companheiro? Você já leu Marx e Lênin ? E  Che Guevara , Celson Furtado, Marcuse ? Ser revolucionário era  “in”., reformista , esquerdista, porraloca,
linha chinesa ou linha russa .
1968, "O Ano que não Terminou do Zuenir , nós vivemos essa dialética  em Uruguaiana !

Depois daquela primeira reunião, cada um de nós tomou seu rumo, as mesas  de reuniões foram feitas por afinidades. O Lico foi pro lado existencialista, o Marco foi para o lado que questionava os valores da época,... eu, para a polêmica da " moda" , que abrangía toda a questão da censura ,(música /cinema/ teatro) ..., Chico X Caetano
& Gil..., o Chico era considerado pelos jornalistas de conservador , quando surgiu com aquela história da “Banda”, música que ganhou festival da Record.  O Caetano e Gil com aquelas harmonias “facinhas”, “Sem Lenço ...Sem documento” & Domingo no Parque, conseguiram a adesão dos intelectuais e do “povo estudantil. Depois com “Roda Viva” , o Chico conseguiu  se colocar em igualdade de
 condições com os bahianos.


Glauber (cinema) , Zé Celso (teatro), aí se concentrou toda discussão naquela "mesa"
cultural do Congresso.

Tudo aquilo era , (como se dizia na época ) um “desbunde”.
Toda aquela experimentação da MPB.,levava todos nós  a uma pregação fantástica, que sempre terminava em música. “ Há dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”... “O Rei da brincadeira é José” ..., Caminhando contra o vento sem lenço, sem  documento..., no sol de quase dezembro ...eu vou ....!

O engraçado nesta história toda , era que nós não éramos afetados por toda aquela pressa excessiva de viver logo tudo aquilo, e não pensávamos em êxito de imediato, não tínhamos raciocínio profissional, éramos principiantes naquele campo “minado”,e não tínhamos fórmulas mágicas que poderiam ser colocadas a favor  da juventude ou de quem estivesse coligado com todas aquelas ocorrências.

Era tudo tão dessemelhante, o forte contra o fraco, o guerrilheiro contra o sistema, todos queriam avançar como se um milagre
 estivesse oculto  para nos ajudar na “grande batalha final” contra o inimigo que se imiscuíam naquele mar “verde oliva”.

Faltando um dia para o encerramento do Congresso, inventei  de  cruzar a fronteira rumo a Argentina (Paso de Los Libres).  Fui,  até a ponte internacional , e peguei aquele velho ônibus (Bus-Scholl), sucata americana, e segui pela estrada até aquele lugar de língua espanhola.
                                                       Continua...


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

- OS OLHOS DE AUDA - (3)

    

Coisas que atuam há muito tempo no espaço de Auda !

 
...Chegamos em Uruguaiana, à tarde, fazía frio, e o vento soprava
uruguaianamente forte! 

Fomos direto pro comitê, para confirmar os credenciamentos..., na
chegada sentimos que a cidade estava completamente lotada, estudantes de todos os cantos do Brasil.
Marco Moraes era o mais emblemático, sabia tudo sobre movimento estudantil..."abaixo a ditadura", "você que é explorado na fique aí parado"...,
frases que pertenciam ao repertório do Marco, uma grande figura,hoje médico cirurgião dos mais conceituados.

Lico, era o mais feliz, sempre agitando uma lance, com os olhos em todas
as direções ao mesmo tempo. "Só a raça russa pode me explorar..., o
Lico bradava aos quatro cantos esta frase, e morría de rir.

Eu , Presidente..., engraçado eu só pensava com o violão, música de protesto, músicas do Festival da Record , e foi exatamente isso que me levou ao cargo numa eleição bebemorável na cidade.

Me lembro que eu estava a começar a namorar uma menina do Colégio,
era o presidente do Grêmio estudantil, estava no curso científico, cantava todas as canções do rádio, não sabía da vasta calamidade que estava
ocorrendo no  país, vivía na ilusão, levava uma grande esperança
triunfante, cantando McGuire, todos estavam vivos lá em casa,
eu era um garoto feliz que andava de bicicleta  Monark marron.

No setor de credenciamento da UNE, veio um estudante do comitê
com uma cara preocupada e nos disse :- "Não tem mais alojamento,
pra ninguém, esta tudo lotado, hotéis, cabanas, casas de famílias,
pensões, a gente não esperava este "povo" todo..., agora tem uma coisa , fiz contato agora com o "QG" e vocês podem ficar no alojamento
dos militares.

Este convite caiu como uma "bomba"..., imagine o seguinte...,
Congresso da UNE, todas as idéias dentro daquele espírito ...,
"Sem lenço...sem documento ", queremos verba...queremos verba...,
fora esta ditadura descarada..., e nós , alojados no quartel general
do exército junto com os milicos!

Não teve geito, lá fomos nós com cara de "pastel" para os alojamentos
subalternos, dentro daquele sistema fecundo que nós dentro do trem
abominávamos.

"Eu vou...por entre fotos e nomes os olhos cheios de cores,com o peito cheio de amores vãos..., eu vou por que não ...
Por que não ! 
                                         by/necão
                                                       





segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

- Á verdadeira racionalidade ou verdadeira irracionalidade -

" O único lugar no Brasil, que não gostam de gaúcho é no Rio Grande do Sul!
                 (Werner Schünemann)

p.s. Todos os meus questionamentos nos depoimentos (8)  Vivendo a Vida de Lee", sobre a rádio Continental (1975/1976) foram respondidos com esta frase frase no programa de Ivete Brandalise no dia 04 /12 / 2010* TV. do Estado (TVE)
                                                         
             - Todos as coisas cortam um cordão umbilical apenas para  se agarrarem a um seio -
                                             
                                                  DEPOIMENTO -06/03/1976 ao Jornal Zero Hora
                                                     No auge do "som local" em Porto Alegre
                                                       Fernando Ribeiro e Arnaldo Sisson

                         " Todos sabem que as manhãs de novo são duras , rangem e não costumam se abrir.
                           É preciso tentar arrombá-las. Talvez assim os critérios mudem e se tenha por aqui um pouco de ar.
                       
                          Ainda que por algum motivo qualquer as portas dos estabelecimentos permaneçam fechadas, nosso esforço não terá sido inútil.
                        
                         Guardaremos a certeza que, lá dentro sentados na cômoda poltrona do conformismo, êles ouviram nossas tentativas de arrombar a porta.
                    
                         Ouviram e ficaram inquietos.
                                                                             (Fernando Ribeiro & Arnaldo Sisson)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

- OS OLHOS DE AUDA - ( 2 ) - A Ciência é uma tartaruga que sustenta que a sua casca encerra todas as coisas-




--- A INTERMEDIARIDADE DE AUDA  -
                                  Nosso conceito Intermediário afirma que devido à continuidade de todas as "coisas" que não são coisas à parte, decisivas ou reais, todas as pseudo-coisas fazem parte do fio comum , em qualquer outro lugar de seja lá o que for.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

- OS OLHOS DE AUDA - (1)


 
Pelas frestas da cerca de madeira...

                                                   by*necão

Creio que se trate de um caso excepcional , talvez um caso tratado na “Pedra da Bruxa”.
Talvez” pegadas de fada”, de uma pessoa mítica , mas confesso que de vez em quando,  em algum lugar , vejo os olhos de Auda.
Quando fui presidente do Grêmio estudantil do Colégio Loureiro da Silva,
fomos convocados  para participar do Congresso da UNE , que foi realizado em Uruguaina(RS).

Lá,  fomos nós, de trem Húngaro , velha Maria Fumaça que cortava as antigas estradas de ferro do Rio Grande do Sul.

Com grande perplexidade , alguns conceitos sobre carteirinha estudantil,
e  com outros assuntos relevantes da época (anos 60) censura, presos políticos, liberdade,cidadania, etc..., embarcamos no trem, eu (presidente), Lico (secretário) Marco Moraes (assuntos gerais).
“Se você perder o trem / Vai saber que eu já fui /  E o apito além da serra /
Vai ouvir” ...ao som de Peter , Paul and  Mary, subimos naquela máquina de madeira e de ferro , cantando estrada fora.

A viagem foi cheia de emoções baratas, o trem só tinha estudantes da grande Porto Alegre, altos papos, muito som no violão, muitas discussões sobre tudo ou quase tudo.
Falava-se  em Carlos Lacerda, Juscelino ,João Goulart , Brizola, Nara Leão, Cacá Diegues, Danuza  e Samuel Wainer, Chico Buarque, militares,
a burguesia nacional, Glauber Rocha... tudo ao som do violão!

Um “bando” de gurias de” São Léo” , encarnaram ...pronto...,
a festa estava formada... na madrugada, o tempo era passageiro como nós , ao cheiro daquela fumaça branca que passava pelas janelas do trem
rumo a terra prometida que iria libertar o Brasil, da miséria , da fome  e do analfabetismo!

O Rei da Vela, José Celso Martinez, Caetano Veloso, todos estavam naquele trem em espírito, assistindo as nossas performances ao som
de” Eve of Destruction” do Barry McGuire!

A energia era tanta, que por vezes ouvíamos o som do alfabeto Morse,
batendo naquelas rochas de noite escura, onde a lua também nos seguia.

Era uma mistura perfeita, política, música , gurias” longe de casa”, lanches do trem, barulho  da lenha queimando, combustível ecológico
do Rio Grande,  para aquela máquina genial- dinossáurica nos levar ao destino.

Não tínhamos a noção de finalidade, só a ilusão daquela noite geográfica
cheia de aventuras, dentro daquele trem de noite enluarada. (que também mandamos no violão aquela canção de Marcos Valle).

“Mão , violão canção , espada e viola enluarada ! 
  Pelos campos e cidades “!

Mississippis, via-láctea, bisões, coiotes, todos naquele trem interplanetário rumo a Uruguaiana,  fronteira desconhecida.
Over /
  And over /
  And over /
  And over  gain , my friend /
  Ah , you don’t believe were on the eve of destruction !
                                                                        (B. McGuire)
 

                                                                                                               continua...