by/necão
Saímos do comitê, e fomos caminhando e cantando rumo ao QG .,...laia...ladaihá...sabadana ave Maria !
Quando chegamos no portão da guarita, já estávamos na canção... "Olhe o arrastão chegando no mar sem fim / é meu irmão me traz Yemanjá pra mim !"
Entramos, e fomos recebido por um sargento, todos nós cansados e com fome .
Ficamos nos alojamentos dos soldados como “et's” . Todos nos olhavam com certas reservas, mas todos foram gentis.
A noite já descia alta , quando jantamos nos salões dos primeiros escalões do exército brasileiro.
O dia começou pra nós as 7:00 horas, a corneta tocou e levantamos juntos com os milicos. Tomamos café, e fomos para a primeira reunião do Congresso Estudantil da UNE.
O local foi num clube perto do Cine Pampa, super luxuoso e de tamanho imenso .
Voltamos num segundo a realidade que tinha nos levado aquela reunião de jovens testemunhas de um tempo extraordinário, independente de algo consistente ou não, mas que naquele momento se tratava de fatos que demonstravam aonde poderíamos construir , pelo menos nosso pretenso futuro.
Fizemos algumas pautas antes de viajar, carteirinha estudantil , ( responsabilidade do Grêmio Estudantil e não do Colégio) ,extinção da taxa de matrícula ( os Colégios públicos cobravam uma taxa naquele época), opção de desfilar ou não em" 7 de setembro" para os alunos do noturno).
Mas o Congresso da UNE mostrou pra nós, outra realidade. Quanto mais radical você fosse , mais moderno você era, mais incomum , mais autêntico. Nas assembléias só de falava no “Partidão” . Todos só perguntavam , qual é a sua linha companheiro? Você já leu Marx e Lênin ? E Che Guevara , Celson Furtado, Marcuse ? Ser revolucionário era “in”., reformista , esquerdista, porraloca,
linha chinesa ou linha russa .
1968, "O Ano que não Terminou do Zuenir , nós vivemos essa dialética em Uruguaiana !
1968, "O Ano que não Terminou do Zuenir , nós vivemos essa dialética em Uruguaiana !
Depois daquela primeira reunião, cada um de nós tomou seu rumo, as mesas de reuniões foram feitas por afinidades. O Lico foi pro lado existencialista, o Marco foi para o lado que questionava os valores da época,... eu, para a polêmica da " moda" , que abrangía toda a questão da censura ,(música /cinema/ teatro) ..., Chico X Caetano
& Gil..., o Chico era considerado pelos jornalistas de conservador , quando surgiu com aquela história da “Banda”, música que ganhou festival da Record. O Caetano e Gil com aquelas harmonias “facinhas”, “Sem Lenço ...Sem documento” & Domingo no Parque, conseguiram a adesão dos intelectuais e do “povo estudantil. Depois com “Roda Viva” , o Chico conseguiu se colocar em igualdade de
condições com os bahianos.
Glauber (cinema) , Zé Celso (teatro), aí se concentrou toda discussão naquela "mesa"
cultural do Congresso.
Glauber (cinema) , Zé Celso (teatro), aí se concentrou toda discussão naquela "mesa"
cultural do Congresso.
Tudo aquilo era , (como se dizia na época ) um “desbunde”.
Toda aquela experimentação da MPB.,levava todos nós a uma pregação fantástica, que sempre terminava em música. “ Há dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”... “O Rei da brincadeira é José” ..., Caminhando contra o vento sem lenço, sem documento..., no sol de quase dezembro ...eu vou ....!
O engraçado nesta história toda , era que nós não éramos afetados por toda aquela pressa excessiva de viver logo tudo aquilo, e não pensávamos em êxito de imediato, não tínhamos raciocínio profissional, éramos principiantes naquele campo “minado”,e não tínhamos fórmulas mágicas que poderiam ser colocadas a favor da juventude ou de quem estivesse coligado com todas aquelas ocorrências.
Era tudo tão dessemelhante, o forte contra o fraco, o guerrilheiro contra o sistema, todos queriam avançar como se um milagre
estivesse oculto para nos ajudar na “grande batalha final” contra o inimigo que se imiscuíam naquele mar “verde oliva”.
Faltando um dia para o encerramento do Congresso, inventei de cruzar a fronteira rumo a Argentina (Paso de Los Libres). Fui, até a ponte internacional , e peguei aquele velho ônibus (Bus-Scholl), sucata americana, e segui pela estrada até aquele lugar de língua espanhola.
Continua...
Um comentário:
Necão!
Deves ter sentido algo que me assombrou e ainda assombra minha existência terrena.
Sinto, as vezes, ser uma ilha, rodeado por tudo que não reconheço como meu.
Fazendo coisas que não são de mim. Respirando um ar que não entra naturalmente no meu nariz.
Convivendo com almas que não tem a menor afinidade comigo.
Compactuando com idéias e modos de viver que não são do meu viver,por condescendência ou pela boa convivêcia.
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