A Banda Cavalo Doido
teve audácia quando cruzou as
"Fronteiras da Loucura".
- Jorge Hill Vargas, Flávio”Big Dog” Assis, Sergio Gomes , Hubert Monteiro & o guitarrista fantasma que desapareceu de Porto Alegre depois dessa única apresentação , foram os personagens que desafiaram todos os preconceitos de Porto Alegre, e irresistìvelmente , triunfaram sobre o poder augusto da capital imperialista .
- Porto Alegre/ 2000 -
by/necão
O Partenon juntamente com a Azenha sempre foram considerados bairros de 2ª linhagem.
Tive a oportunidade de morar bem ali na boca da Bento, junto da garganta da Azenha .
Morava na Teixeira de Freitas, um pouquinho antes daquela rua onde o “buzão” Caldre Fião entrava a mil , indo não sei pra onde , talvez pra Birmânia , ou pra algum lugar desconhecido do planeta terra , levando “rappers, bi boys, hip hopers, sambistas de fundo de quintal, e algum ou outro trabalhador da construção civil”. Era a “Magical Mystery Tour de Porto Alegre, dentro de toda aquela prescrição social , para que todos se sentissem felizes.
Mas tinha gente famosa que cruzava todos os dias a “Bento” . O Monteiro Lobato, outro descriminado brasileiro; o Machado De Assis , que a maioria considerava “chato”; o Barão do Amazonas, que não sei porque acabou no Partenon; o Euclydes da Cunha não poderia faltar, era o nosso escudeiro familiar; Luiz de Camões fazia inveja aos outro bairros, pois cruzava todos os dias nossa avenida principal ,cheio de palavras difíceis; e outro também como o Fagundes Varela que ninguém notava.
Não poderia ter cenário melhor para a Banda Cavalo Doido, realizar esta aventura de tocar dentro de um Hospício. Tínhamos todos componentes de natureza espiritual, problemas de ordem sexual, naturezas de Deusas Sujas, Motéis , a Igreja Católica, O Bco. Bradesco, O Quartel do 18 RI , Carrefour, os pacientes do São Pedro, que junto de todo sensorial do bairro , faziam aumentar de tamanho a régua linear da vida .
A sexta feira amanheceu escura, os pássaros que normalmente cantavam as 6 da manhã, naquele dia acordaram mais tarde , e começaram a cantar exatamente as 9:30 , quando o sol começou a clarear o dia, dissipando toda cerração .
No café , olhei pra Negra e disse : - É hoje o dia do Hospício..., Hospício ????
É , a Cavalo Doido vai lá, se apresentar hoje !
Sabe aquela assunto que eu sempre questionei , a coisa “Gótica” , que nunca chegou em Porto Alegre, pois hoje , penso que isso vai acontecer .
Pelo menos no “ ar” , e no astral , teremos o “Povo Godo”, as Catedrais de Chartes , Reins e Paris. Os séculos XII E XVI, Frankenstein (1816), Edgar Alan Poe, Drácula, o expressionismo,Metrópolis, Nosferatu, Picasso, Dali , aquelas bandas >Joy Division,
The Cure, The Cult, aqueles espíritos também de bandas de “Sampa” >Garotos Podres, Ratos de Porão , Cólera, Inocentes , e lógicamente o karma de todas as bandas alternativas de Porto Alegre de todas as épocas > Liverpool, Prosexo, Khaos, Mao-Mao, Byzarro,Utopia, Flor de Cactus, Lory Finokiaro, Chapéu de Cobra, e o espírito da Rádio Ipanema com a irresistível Kátia Suman.
Assim ..., veja bem ..., a arquitetura do São Pedro na noite , aqueles portões altos, a banda
periférica dentro daquelas brumas, toda aquela energia descriminatória no ar , espíritos de pantalonas dos anos 60, toda uma constituição política do faz de conta....,só transformando tudo aquilo ou levando tudo para o “Universo Gotticus” para montar o cenário e tirar aquele caldo cultural .
Digo assim..., quem sabe um novo desenvolvimento cultural vai iniciar hoje , através da música , que vai desaguar depois na arquitetura, literatura, e finalmente quem sabe as cabeças pensantes de Porto Alegre despertem deste período anestesiante ,e fiquem profundamente marcados por estas influências todas de nosso bairro.
Por incrível que possa parecer , > pensei na época, > o Hospício São Pedro > hoje, vai ser o novo, e a cidade vai representar o medieval.
Saímos de casa 8:30 , e fomos de preto , eu e Negra , > para encontrar toda a integridade daquele espírito selvagem.
Entramos pela Bento no São Pedro, um rapaz no portão principal, indicou-nos o caminho.
O páteo por qual passamos, estava com a grama toda cortada, os pararalepípedos pintados de branco , que adornavam os canteiros de flores do >“amor perfeito”.
Aquela sensação temporária de desconforto ficou na “Bento”, não entrou . Muitas árvores
com a sombra da noite, ficaram altas, imensas, as luzes da cidade estavam indo para o litoral, não iriam participar daquela “coisa” isolada , mas que vinham de um galope audaz
de um “Cavalo Doido”.
Depois que cruzamos aquele páteo, bem ao fundo um prédio branco mostrava uma luz de porta aberta , e uma pessoa com os olhos esgazeados nos recebeu com um sorrizo de criança, e disse:- Entrem é aqui , depois do corredor, ali , na nossa sala de aula .
Antes de entrar na sala , naquele breve minuto , pensei naquelas bandas de Woodstoock .
Aquele espírito guerreiro, totalmente altenativo; "lance que eu sempre gostei!" Country Joe and the Fish, Jefferson Airplane, Sly & The Family Stone , Ten Years After , Canned
Heat , Melanie Mountain..., a Cavalo Doido sempre me representou isto, valores de um Easy Rider , de um rocker solitário , igual música do Foguete Luz .
Entramos na sala , a Banda já estava lá , a aparelhagem pronta , bandeiras com o nome da Cavalo Doido, os músicos todos com um alto astral , como se fossem se apresentar no maior palco do mundo.
Não senti cinzas , pelo contrário, tudo estava psicodélicamente colorido, nos sorrisos dos pacientes do São Pedro.
Batemos um “´papo” com todos da Banda, misturados com todos aqueles olhos estranhos sobre nós , mas que continham uma ternura que eu nunca tinha visto.
A sala, com as velhas carteiras dos colégios da minha infância, estavam todas ocupadas.
Eu, Iara Negra, e Dudu Vargas, ficamos bem no meio dos internos do Hospital.
A Banda começou a “rasgar” com a música “Café Luby” todas as discriminações seculares a respeito das almas famintas de afeto, da fome insaciável do ser,
das chamas do silêncio eterno daqueles pacientes.
Depois, o sempre presente “Vento Minuano “ , que naquela noite mostrou a todos, a queima roupa , a vida real pulsante da velha senhora vida .
Jorge Hill, sabía que estava dentro de um forno crematório de mentes, mas transmitia
a Banda e a seus parceiros através de seu canto, a valorização daquele momento único,
e do trabalho social vital , para equilibrar os próprios cascos da Cavalo Doido.
E as músicas se sucediam , Mendigos canção social, Coisas de Estrada (visões),
O.N.V. (canção-lamento/ tributo ao velho Pai ) Tutankamon..., imagina dentro do Hospício São Pedro, evocando as pedras pré-históricas, dos túmulos dos faraós.
Palmas ...muitas palmas , rompiam daquelas mãos com vigor saudável.
A intuição era visível como uma noite de várias estrelas cadentes, tive a impressão que tudo se fortificou, tanto a saúde mental , a espiritual , pelo menos naquela noite
de verão, em que “só a Deus pertence “ !
No final a Banda terminou a apresentação com a canção “Luzes da Ribalta”, que definiu
aquele momento , > “ O que vive morrerá...o que morre viverá !
Terminou ..., entre - abraços ,despedidas , emoções , dentro de um campo de energía dinâmica , que no futuro certamente, lances como este, serão instrumentos muito eficaz da medicina , principalmente em doenças mentais .
Fomos caminhando de volta pra casa..., pensei em outros grandes lances que tive a oportunidade de ver... a Banda Liverpool com Carlinhos Hartlib na Reitoria, G.R. Show
Na T. V. Gaúcha ao vivo, com Gênio Reis, Hermes Aquino cantando “Macho Picho” no Teatro Presidente,
Milton Baraldo em São Léo , na Sociedade Orfheu, Júlio / Studio 2 produções quando apresentou a música do Hallai (Chuvas) , ...êle parou tudo e lascou :- Studio 2 produções
apresenta “Chuvas “ em Rodagem Máxima ...Hallaiiiiiii* Hallaiiiiiiiiii ! Marco , cantor dos Indomáveis no Club do Comércio , cantando Magical Mistery Tour dos Beatles, Som 4 ,
no Clube Sete de Setembro , cantando “ Go to get you into my life”, Banda “O Suco” do Claudio Vera Cruz no Israelita”, O Pekos do Liverpool cantando no Clube Aliança , “My Back Pages dos Birds, Utopia no “Araújo Vianna, Glória Oliveira e Alegre no Kafka Bar,
O Foguette luz , no Leopoldina, quando da despedida de Porto Alegre.
Não sei não, Sempre fui ligado em coisas antimidia , talvez um legado vindo da família,
saber demais, sobre as coisas e sensações humanas ao vivo , movido somente pela emoção em que todos deveriam sentir, em cada idade..., a cada estágio da vida.
Aquela noite da Banda Cavalo Doido, que tinha acabado de terminar , me levou a estas emoções, que ficaram marcadas em minha alma, e que jamais partiram !
FIM ! *