by*necão
Creio que se trate de um caso excepcional , talvez um caso tratado na “Pedra da Bruxa”.
Talvez” pegadas de fada”, de uma pessoa mítica , mas confesso que de vez em quando, em algum lugar , vejo os olhos de Auda.
Quando fui presidente do Grêmio estudantil do Colégio Loureiro da Silva,
fomos convocados para participar do Congresso da UNE , que foi realizado em Uruguaina(RS).
Lá, fomos nós, de trem Húngaro , velha Maria Fumaça que cortava as antigas estradas de ferro do Rio Grande do Sul.
Com grande perplexidade , alguns conceitos sobre carteirinha estudantil,
e com outros assuntos relevantes da época (anos 60) censura, presos políticos, liberdade,cidadania, etc..., embarcamos no trem, eu (presidente), Lico (secretário) Marco Moraes (assuntos gerais).
“Se você perder o trem / Vai saber que eu já fui / E o apito além da serra /
Vai ouvir” ...ao som de Peter , Paul and Mary, subimos naquela máquina de madeira e de ferro , cantando estrada fora.
A viagem foi cheia de emoções baratas, o trem só tinha estudantes da grande Porto Alegre, altos papos, muito som no violão, muitas discussões sobre tudo ou quase tudo.
Falava-se em Carlos Lacerda , Juscelino ,João Goulart , Brizola, Nara Leão, Cacá Diegues, Danuza e Samuel Wainer, Chico Buarque, militares,
a burguesia nacional, Glauber Rocha... tudo ao som do violão!
Um “bando” de gurias de” São Léo” , encarnaram ...pronto...,
a festa estava formada... na madrugada, o tempo era passageiro como nós , ao cheiro daquela fumaça branca que passava pelas janelas do trem
rumo a terra prometida que iria libertar o Brasil, da miséria , da fome e do analfabetismo!
O Rei da Vela, José Celso Martinez, Caetano Veloso, todos estavam naquele trem em espírito, assistindo as nossas performances ao som
de” Eve of Destruction” do Barry McGuire!
A energia era tanta, que por vezes ouvíamos o som do alfabeto Morse,
batendo naquelas rochas de noite escura, onde a lua também nos seguia.
Era uma mistura perfeita, política, música , gurias” longe de casa”, lanches do trem, barulho da lenha queimando, combustível ecológico
do Rio Grande, para aquela máquina genial- dinossáurica nos levar ao destino.
Não tínhamos a noção de finalidade, só a ilusão daquela noite geográfica
cheia de aventuras, dentro daquele trem de noite enluarada. (que também mandamos no violão aquela canção de Marcos Valle).
“Mão , violão canção , espada e viola enluarada !
Pelos campos e cidades “!
Mississippis, via-láctea, bisões, coiotes, todos naquele trem interplanetário rumo a Uruguaiana, fronteira desconhecida.
“Over /
And over /
And over /
And over gain , my friend /
Ah , you don’t believe were on the eve of destruction !
(B. McGuire)
continua...
Um comentário:
Olá Necão!
Novamente surge uma verdade incontestável:
- Não importa a origem ou o destino, o que importa é a viagem que está no meio.
Esta viagem que está presente nas nossas idas e vindas da vida. De onde viemos sabemos, para onde vamos sabemos ou imaginamos, porém, o insondável é o que vai acontecer neste hiato entre a partida e a chegada.
Um grande e saudoso abraço.
Delvan
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