by*necão
O CABINEIRO da noite avisou que o navio já tinha passado do Porto de Camboriú, todos nós ajeitamo-nos, e aí começou a “cair as fichas”, um silêncio bateu na proa e se espalhou por toda embarcação..., a noite , o mar e a lua, triângulo perfeito para 4 marujos .
de Curitiba, novas armaduras gaúchas teriam que ser jogadas ao mar.
Paulinho Velho Tchêrife gostou da idéia e começou a pegar da sua maleta de bordo, alguns pertences culturais que estavam pesando por demais >.
Separou papéis da Lei de Incentivo a Cultura,
que tinha pego na Secretaria da Côrte do Estado dos Pampas,
um pedaço de xarque que tinha sido curtido no vento enrolado num papel de alumínio.
Um pacote de erva Chimango ,algumas fitas k7 de heróis da música urbana de Porto Alegre , e também vts., do programa fantástico local, que o grupo tinha gravado nos castelos da t.v. Gaúcha.
Mr. Robson, questionou:- Tem certeza que isto não vai fazer falta quando sentires saudade dos campos verdejantes do reinado.
O Velho Tchêrife , respondeu :- Quando eu decidi abandonar a Corte, comecei a queimar meus navios, portanto o mar é o destino de tudo isso que separei.
Mr. Robson, olhou pra sua bolsa de puro couro de boi e disse:- Vou jogar esta bolsa fora, chega de cultura de cavalo e de boi.
Foi um reboliço, todos tentaram acalmar Mr . Robson, e o jovem Hallai começou a dar risadas
gozando de nossas caras. É tudo brincadeira !
...Mas o “papo” ficou sério, todos achavam que realmente os cavalos governavam com sabedoria,... e os velhos e novos gaúchos se submetiam.
... Eu, Jorge Hill e o Velho Tchêrife concordamos que os animais eram dotados de virtudes que deveriam ser humanas e que homens
da cultura regional teriam sido reduzidos, por influências dos antigos tropeiros, a bestialidade dos macacos.
O assunto ficou “trincado”, todos perderam os vínculos com a realidade do cotidiano e a coisa desorganizou total..., veio a sátira , o pessimismo, e o riso ficou amargo. Será que toda obra literária gaúcha foi baseada no cavalo ?
Demos um tempo ao sabor de um licor madeira,e recomeçamos de novo com “as armaduras gaúchas ao mar”!
Jorge Hill, pegou sua maleta country e despejou em cima da mesa da cabine, olhou..., olhou..., e disse:-"Na verdade pra não dizer que não falei de flores,vou me desfazer de um vídeo tape., que eu trouxe
sobre o programa Galpão Crioulo que passa todos os domingos a 6 horas da manhã e que eu na verdade nunca vi..., e quero ficar assim.., portanto, vídeo tape ao mar !"
... Diante de tantas atitudes não me restou outro caminho. Peguei uma faca de cozinha e disse:- Vou cortar minha cabeça e atirar ao mar, não tem outro jeito, fui criado no meio de C.T.G., e isto não tem..., não tem cura!
Foi uma “risadada” geral.
A noite já estava alta e todos desmaiaram de tanto sono.
O navio seguia seu rumo em busca de outro porto,
O Hallai hallai dormia, sonhando com a próxima atração >.
Aquela madrugada foi histórica, a banda ficou mais unida, uma única lei regia todos: amizade, prazer em estar junto, e solidariedade.
Cada pensamento atirado ao mar era real , e que se transformava numa força , a liberdade de falar besteiras como uma coisa séria, ajudou a todos a descontrair e a questionar de uma forma bem humorada os fantasmas de Porto Alegre.
Os padrões hereditários, os códigos culturais, as “tais” de crenças sociais , ficaram pequenas perto da força da banda que era UNA!
O Hallai Hallai estava vivo para enfrentar a grande aldeia do “Gran Monde”, com suas violas afinadas e autorais!
Eu falei a todos antes do sono chegar:- "É do zero que vamos começar em Sampa...", Paulinho Velho Tchêrife no pé do ouvido disse : " A caixa preta da música também será aberta...", Mr, Robson só olhava, sabendo que as coisas seriam difíceis..., Jorge Hill já tinha se adaptado, e era o que mais acreditava na força do vocal e nas letras
das músicas.
O Planeta Marte lá em cima, com aquela cor vermelha, acompanhava de longe o navio, e transportava para dentro de nós, nossas próprias batalhas.
Tudo se misturava, o sono do Hallai, os sonhos e pesadelos, naquela madrugada rumo ao centro do país.
...continua ...
2 comentários:
E ai irmão!
É terrível lembrar que estamo ai e pregamos no deserto..
Mas o que importa é que o mundo ficou diferente depois que passamos.
Lembra da tua aldeia, de Montenegro e Esteio, lembra do Màrio (comunista).
Nada é mais importante.
Somos o que ousamos.
Eu e tu somos diferentes.
Eu sonho ser, tu és.
Eu sou a pretensão, tentando realizar a centelha da poesia que me falha.
Jamais terei a clarividência que te sobra num mínimo suspiro de inspiração.
Grande Hallai Hallai.
Foram uma daquelas coisas que a gente não entende.
Produziram com qualidade e coragem, em tudo pioneiros.
Talvez no tempo errado. a província não se deu conta do quanto eram bons.
Tive a grande felicidade de me tornar amigo e parceiro do Necão. Grande história, vida longa aos cawboys Necão, jorge, Paulinho, Robson e Cid
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