"A força dramática do *HALLAI*HALLAI* em Sampa para tocar suas trombetas*
O navio chegou em Sampa as 6 horas da tarde, hora da Ave Maria , de Jerônimo o Herói do Sertão, da novela das seis .
A Terra Prometida da música , a nossa nova Gália , a Arca do Hallai não estava mais no meio das águas, nem no cume da montanha.
Nós todos estávamos com a cara de uma “Roma subterrânea”, catacumbas ambulantes , depois daquela viajem no lombo do navio que aportou nas águas turvas
dos Portos do Tietê .
O frio do quase noite , fez Jorge Hill convidar a todos para o primeiro cafezinho paulista, antes êle telefonou pro sul para saber como estava sua família. Paulinho
Velho Tchêrife puxou seu velho Charuto gasto , já a meia” boca blues”, deu aquela baforada com todo fervor maduro de um velho lobo do mar em terra firme.
Mr. Robson não telefonou , procurou dentro daquele imenso” Portugal”, alguma coisa pra comer, estava como sempre calmo e tranqüilo.
Cumpri o mesmo ritual do Sr. Hill , e avisei minha querida Negra que estava celebrando com os guris ao sabor de um “pretinho”, a nossa chegada em São Paulo
dentro dos Portos do Tietê.
Era para nós o suficiente naquele cair da noite , a viajem tinha nos abençoado com todos os “papos” que tinham rolado sem tradições e preocupações que não fossem nossos questionamentos musicais ,e tudo que envolvia as línguas de fogo de nossa aldeia.
Depois de elogiarmos o cafezinho, que de fato estava “loco de especial”, um sotaque
norte /nordeste respondeu: - É verdade !
A seguir , Mr. Robson depois do belo misto quente , comentou que ao reclamar um pouco da falta de cor do tal misto, uma voz também do norte / nordeste respondeu
-É verdade !
Pensei , estamos na terra da verdade ! Tudo é verdade, mesmo a mentira .
Paulinho Velho Tchêrife, depois dos comentários que fizemos sobre o “é verdade” ,
afirmou que nós agora estávamos dentro da caixa preta e que sería muito mais fácil
descobrir seus arquivos obscuros , mais do que todos as vezes que estivemos
pensando em descobrir onde estaria a “tal” cx. Preta do sucesso !
Pegamos um taxi branco, e ordenamos ao motora: Ao centro, pela Av. Paulista !
O sangue iluminou nossa caras..., todos felizes ...,nossa atenção entre “papos mil”, era observar aquelas construções e colunas imensas, santuários de todas as coisas , outras pedras ...Jorge Hill, na se conteve ..., vai rolar, sinto as pedras rolando !
Quando o taxi entrou na Paulista, surgiram aqueles edifícios de uma nova renascença arquitetônica, feitos com moedas de ouro. Era sexta feira e a noite refletia o espírito histórico dos casarões dos magnatas do café , que
ainda permaneciam de pé no meio daquela selva de concreto .
Olhei para Jorge Hill que estava vibrante ,olhando pela janela do taxi aquele desfile de gente em direção do “The Real” ..., disse..., é isso aí... aki tem jogo!!!!
O taxi passou pela esquina famosa da São João com a Ipiranga, e estacionou perto da
Estação Republica, saltamos na maior alegria, e com as bagagens em punho, fomos em busca de um Hotel barato para montar nosso QG do Hallai Hallai!
Quando senti aquele cheiro de” fast food” em pleno centro de São Paulo, um flashback
invadiu minha cabeça : A decisão de ir para São Paulo tinha partido de mim, os guris estavam todos ali na maior vibração e emoção, tudo estava certo, desde quando resolvi pedir pra ensaiar na Casa de Cultura Mário Quintana , que estava ainda em
total “bagunça” , com móveis cheios de cupin espalhados em todas as salas do antigo casarão do Hotel Magestic para ser transformada no que é hoje.
A decisão de ensaiar em Porto Alegre foi acertada, junto daqueles moveis antigos do
Magestic ..., a gente sentiu dentro daquele mausoléu( estava tudo por fazer),os tempos anteriores de pessoas que passaram por alí, permaneciam ainda com aquela força social ativa , pelas paredes daquela Babilônia de muitos jantares,promessas , negócios,
e mágoas de corações.
Ali , encontramos um local estranho e com poucas luzes , duas ou três luminárias encebadas penduradas no teto, mas aquêle lugar de tantas histórias nos passou
uma energia boa, uma espécie assim de “ Livro da Mudança”, com os princípios da doutrina perfeita sobre a tolerância.
Voltei ao “The Real”, e já sabia aonde deveríamos ficar, já conhecia as Tabernas
da grande metrópole de São Paulo, fui gerente de duas filais paulistas em Porto Alegre,
e sempre ficava na rua Frei Caneca num apartamento de uma das empresas perto da Paulista.
Fui direto com o pessoal do Hallai para as imediações da Rua Timbiras, sabía que ali
poderíamos resistir por alguns dias o custo das estadias.
A rua Timbiras era o limite entre a “boca do lixo”, e da dita civilização apta para ser escravizada.
Uma “zôrra”, mas a Taberna que nós ficamos era” super legal’, com café da manhã com vários sucos , torradas etc...
Ficamos em dois apartamentos, descarregamos nossas bagagens, tomamos banho
e saímos para comer ;... nossas subsistências estavam garantidas por alguns dias em um local interessante de muitas histórias romanas, cheias de Calígulas e mulheres do interior do Brasil.
Mesmo dentro destes limites incertos, nós nos sentíamos príncipes, e queríamos ser Imperadores.
Tudo era permitido e vedado ao mesmo tempo, afinal éramos gaúchos e deveríamos amarrar de novo nossos cavalos no Obelisco Paulista .
Continua...
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