Delvan “Poeta Navegante” (2)
by*necão
... somente alguém só /
a cantar o vento solto /
de mulheres milenares /
lembranças amadas /
de barcos ilusões flutuantes /
somente alguém só /
que fale de velhos ideais /
como uma ferramenta /
gasta ao canto /
da vida , da alma e do canto /
mas se existirem dúvidas /
é só cantar momentos /
destes longos e ainda amantes /
tempos...tempos... e tempos
(Delvan)
...nestes versos , Delvan , revela com precisão dois elementos ; o olho por meio da visão sobre o tempo, e o cérebro pela lógica das reflexões que desvendam a verdade áspera da solidão / fiz uma canção com estes versos que nunca esqueci / ... uma música para voz e violão, com a luz afinada em (F) , tendo no telão , uma foto de outono em preto e branco . (anos 80)
...eu sempre tive a sensação , quando batia ponto no Grupo Votorantim , as 7:30 da manhã , que estava entrando numa nação militar velha , que reclamava um sangue novo e rico, essencialmente pacífico /
... mas quando entrava no recinto , aquela coisa do galo-romano
voltava a minha mente ; êeepa! ...estou em Porto Alegre , na sublime tarefa de vender bauxita!
... e nos paramos em nosso espaço /
a ouvir a esperança viva /
que vem e traz as novas cores /
para esta e outras dimensões /
e as almas / brancas / soltam-se /
de suas prisões /
e o espírito vaga livre /
pelas imensidões dos tempos...
(Delvan)
... quando saía da empresa , pelas 6 em ponto , íamos direto pras
bandas da São Pedro > pelos caminhos da Roosevelt , onde jogamos palavras sobre aqueles paralepípedos ,questionando aqueles espíritos erráticos , onde não havia aventuras para exercitar a mente ...Delvan , que muito raciocinava, me dizia que se tivéssemos o propósito de fazer fortuna comedida e sólida alí , não sería o lugar, pois a palavra “comissão sobre as vendas”, e a participação nos lucros da empresa pelos funcionários, somente com o velho grito de Tarmelão : Haïi-up! Haïi-up !
... seguimos novamente /
ao deserto /
para ver dentro /
de nosso próprio espírito /
nem santo /
nem mais eterno ...
e, aí ...
houve longo silêncio /
enquanto a noite /
partia para outro dia ...(Delvan)
... o capital produtor tem o sonho ansioso de diminuir, pela baixa dos salários , as despesas da produção.../ a poesia e a música nos levava aos direitos divinos e humanos , sem Esquadras, nem Exércitos para fazer respeitar... / a criatividade nos colocava numa zona neutra ;” venerável mandarin” dentro do constante perigo econômico do final do mês , quando Delvan buscava em todas a gavetas pedidos perdidos, para aumentar o faturamento e informar a São Paulo o desempenho da filial gaúcha /
...Delvan , sempre conseguia, com sua” flecha tártara”, a liberar pedidos do interior para que assim a filial aumentasse seu faturamento... / então , nosso gerente mór , em paz ficaria ,até
o próximo final de mês /
... todos se foram como vieram /
veio então a chuva /
molhou a terra /
o vento soprou-me os cabelos /
a noite sentou-se outra vez /
junto a fogueira /
o fogo dançou /
o vento cantou /
adormeci ...(Delvan )
...longas reuniões , na sala temerosa , onde todos os vendedores ficavam submergidos pela “Bauxita”...lá ..lá ...lá ..vamos dançar !La Bauxita ” ! ...a gente é que dançava entre alumínios, estoques e telhas trapezoidais /
...entregue tuas razões a Deus .../
pois só Ele entende ...(Delvan )
...mas sempre chegava a tardinha , horário da libertação , hora de “não comer um chinês” , segundo expressão americana (engolir sapos)... então , pelo Navegantes , fazíamos nossa rota 66 , munidos de caneta, versos , e violão e a vandálica cerveja dos bares da Roosevelt /
... Delvan gritava ao acorde de mais um verso : Basta de chineses !!!!
... vamos olhar um pouco para “as veias abertas da americana latina “ .../
... muito sangue manchou /
nossas calçadas , já rubras /
de antigos tempos /
que a crônica urbana /
não registrou /
deixou o branco /
tomar rédeas soltas e esquecer
(Delvan)
...os anos passavam muito rápido / a data limite para o “Chu-King” ( livro das memórias futuras ), estava chegando , empurradas pelo
“Ji-King” (livro das mudanças) /
... com lágrimas cintilantes /
com preces de perdão /
por nós que nada fizemos /
senão cantar com a cigarra /
mais um verão se foi /
ainda não somos livres /
nem bons cantores ...Delvan)
...foi numa festa no Barril, em que eu fui designado para entregar os presentes para os funcionários da filial e, convidados de São Paulo da matriz do Grupo Votorantim , que se deu o epílogo final da minha passagem de 4 anos por esta empresa /
... mas eu ainda canto /
os sofreres da vida /
mas ainda vivo /
os prazeres da ferida ...(Delvan )
...o “príncipe gerente”, me deu esta incumbência , de entregar os presentes na festa de final de ano / eu sabía que no meio disso tudo que criamos dentro do Grupo (filial de Porto Alegre ) , alegrias , camaradagens, festas , participação, liberdade de expressão / revelações de talentos incubados , e muita venda de alumínio , alguém por certo não estava gostando / e foi dentro desta suposta
e deleitável aparência que se escondia uma realidade ortodoxa do
próprio grupo .
... homen americano /
quando tua luta acabará /
quando dormirás /
quando voltarás /
quando voltarás ...(Delvan )
...aquela noite foi de altas virtudes ,altos feitos , o próprio passado glorioso do Grupo foi comemorado / o poder dos cézares foi aplaudido / tudo foi permitido durante o culto da carne acompanhado da vandélica cerveja /
... no instante derradeiro /
ainda penso no começo /
pois dali, saiu este fim ...(Delvan)
... na saída , dentro daquele clima de festa , dei um grande abraço
no raro amigo Delvan , e não sabía que minha passagem de 4 anos,
estava se encerrando ali / ... o ano que vem > vamos mudar o mundo na base da música , poesia e a vandélica cerveja , disse pro Delvan , pensando que depois daquela festa tudo sería permitido, inclusive, até um patrocínio para nosso trabalho, bancado pelo
Grupo ou por um grande cliente que atendíamos no interior /
... a estrada se desfaz /
dentro da minha mente /
como na de tantos /
outros perdidos /
não venha comigo /
sou solidão /
não existem caminhos /
em meu coração ...(Delvan)
Na segunda feira, me deram férias ...saí feliz !
Na volta me dispensaram !
Questionei ..por que ?
Resposta ! Nenhum motivo , apenas contenção de despesas.
Um mês depois , estava em São Paulo , assumindo a gerencia
do Grupo Granero na filial de Porto Alegre , com fixo e comissões .
... por quantos lugares passei ?
por quantos tempo vivi ?
Já nem sei /
pois ainda não parei ...(Delvan)
p.s. todos estes escritos do poeta Delvan foram produzidos na década de 80 / não sabíamos de toda esta engrenagem que a vida nos leva a viver /
os próprio versos de Delvan já antevia esta despedida tão ilustre movida a versos geniais do grande poeta / camarada DELVAN*!
Outro dia*
...já não sei as horas /
mas é novo dia /
sei sinto , a renovação paira /
sobre nossas cabeças /
...descrentes da luz /
não chega ao sol /
mas é novo dia /
eu sei , senti ...
...podes trocar a roupa /
a vida , a alma /
estamos no novo dia /
vamos a rua /
sentir novas coisas /
amar novamente /
o branco dos olhos /
e as cores da mente /
...mas tudo acaba /
a noite ainda é presente /
passado, passando a futuro ...
(Luiz Cláudio Delvan )
Fim *
Um comentário:
Naqueles dias tínhamos ainda corações puros, inquietos e apertados.
Corações que de tempos em tempos explodiam em criações.
Poesias que marcaram a vida de dois sonhadores nos caminhos árduos do viver.
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