sábado, 1 de janeiro de 2011

- OS OLHOS DE AUDA - (05) Soy Loco por ti América !



Os olhos de Auda..., latinos !
                                                                                      by/necão                            
                 

Aquele ônibus “amarelão” cruzou a ponte internacional ; deixei pra traz aquele espírito de rebelião e força popular. Os governos jamais seriam anulados, todos viciosos e falsos ! ... ***Haaaaá juventude que esta brisa canta..., congresso da UNE,

tudo ficou no retrovisor do”bus americano”.

Dentro daquela “sucata ”, senti algemas espanholas, sob o  olhar aprovador de Deus.


Me pareciam todos santos, dentro daquela “Venezuela pobre” que não nos aferrolhava, e nos levava para “Paso de Los Libres”, terra argentina,onde a” mama” nasceu, em 10 de dezembro de 1924, dentro de um trem , viajando de Resistência para Corrientes, Província do Tchaco, fronteira

de Santa fé !



  Antônia, um capítulo a parte > A mãe deixou p’ra

toda família régua e compasso . Toda cultura latino americana, veio junto com ela. Jornal El Clarín, Pelmex filmes, Carlos Gardel,Saramago, Jorge Luiz Borges,Sarita Montiel, Evita e Perón. Ninon Sevilha a primeira dançarina de Mambo do mundo,Trio Los Panchos. Um fato interessante que o velho pai Mário nos contou:- Quando êle chegou no Porto Garibaldi, avisaram que aquele pedaço de terra estava cheio de mulheres bonitas. A única coisa que êle não podería fazer era namorar uma menina que só lia romances , o nome dela: Antônia !

A mãe partiu com 40 anos, deixando todos nós sem chão .

A mãe se divetiu muito, fumando o cigarro Hudson, bebendo vinho doce, tocando acordeon e cantando canções que até hoje guardo na minha mente...,

“...y tudo a media luz
Que eS um brujo El amor...
A media luz los besos...
A media luz los dos …,
Y todo a media luz...,
Crespusculo interior...,
Que suave tercio pelo “
La media luz de amor !
                                                    (Gardel)

O “bus”, estacionou longe da rodoviária ; senti ali o gosto da clandestinidade que é jovem e sem dor.

Me senti uma individualidade, não estava conectado com ninguém . Atravessei a rua pequena, e fui caminhando pelas calçadas nobres e sem lixo, daquela pequena cidade da fronteira .


De longe avistei a rodoviária , alguns argentinos, com aquele olhar de” pavilhão apostólico” a desmanchar a obra da civilização .


Sentei num bar, dentro da estação, pedi alguma coisa para comer, e avistei um ônibus elegante de dois andares, olhei e senti a ‘strada na minha frente,

Paso de Los Libres  X Buenos Ayres, naquele instante,

entre o reflexo do vidro da cabine do ônibus e o itinerário , enxerguei “os olhos de Auda” .


Me arrependo até hoje, de não ter seguido em frente.


Voltei a razão, fui em busca de uma calça Lee e de algum perfume francês, que naquele tempo nem em sonho podería  ser encontrado no Sul do Brasil.


Contrabando, esta era a palavra para definir uma compra fora das quatro linhas brasileiras. Demais!


Pedi informações, numa “bomboniére” que só vendia chocolate francês e descobri que em cima de um mercado, bem no centro da cidade, eu iria encontrar

a mercadoria secreta , tudo com muito “papo no pé da orelha”!


Cortinas de plásticos em tiras, separava uma loja da outra,  bem em cima daquele mercado de “faz de conta”, contrabando puro com anjos de porcelana da Argentina ; ali, entrei e perguntei : - Calça Lee é aqui ?

Si !  Feito... achei a “Índigo Blue verdadeira”, ela cheirava azul da civilização americana. Foi o máximo, toda idéia daqueles anos “60”, estava nas

minhas mãos.


Uma coisa exportada e contrabandeada naqueles anos, era maior que a Muralha da China . Não tinha

nada melhor , nem espiritual , nem imoral .


“Foi exportada do exterior” !, Já comecei a ensaiar , palavras... , caminhando e cantando pelas ruas de Paso !


Faltava o perfume..., eu tinha que encontrar no meio daquela cidade branca , pensei !


Entrei numa loja cheia de quinquilharias japonezas,

uma daquelas atendentes, com ares de Sarita Montiel, disse: _ Si..., pronto ...achei , aquele perfume

contrabandeado com nome de Arpége ! Foi a glória !

 

Êle tinha uma embalagem de veludo vermelho, e tinha o cheiro da beleza , de teares, de idéias parisienses...,pronto , pé na estrada , de volta a Uruguaiana !


Continua ...


















3 comentários:

Luís Cláudio Delvan disse...

Olhando o passado, algumas vezes o arrependimento bate a nossa porta.
O que teria acontecido se não tivesse deixando a vida escolher por mim.
Se seguissem o instinto e não a razão, “por supuesto” alguns poderiam não estar tocando a viola maravilhosa. Poderiam estar trabalhando num escritório ou ainda numa repartição em sei eu lá onde.
Ou ainda fazendo um show no Madison Square Garden, tocando no metrô de Londres.
Como disse o comercial da TV, somos o resultado de nossas escolhas.
Tua escolha foi o melhor para nós, quem sabe de outra maneira seriamos privados da tua arte.
Cabe a ti julgar o que te faz feliz.
Eu ainda procuro a encruzilhada mortal, onde o rumo que eu seguir será o juiz do meu destino.
O resto é sonho e, novamente, amanhã acordaremos para um novo sonho.

Luís Cláudio Delvan disse...

E agora?
Opção à frente, escolher esta ou aquela estrada.
Ora meu amigo, estrada é estrada,a diferença é a chegada.
Uma leva ao bom destino, outra não.
Uma leva à razão, outra não.
Uma é do prazer e a outra não.
Uma é a que tomamos e a outra não.
Uma é a do riso,outra não
Uma é da paixão,outra não.
Uma é a que viveremos, outra não.

Delvan

Luís Cláudio Delvan disse...

Sei que não serei perdoado pelo destino.
Escolhi eu mesmo o caminho.
Os deuses são cruéis, sempre serão.
Me darão a recompensa na exata proporção das minhas escolhas.
Delvan