terça-feira, 26 de maio de 2009

>DEPOIMENTO > ( 4 )






VIVENDO A VIDA DE LEE 2°CONCERTO*


                             -VIVENDOLOGÍA DE LEE-
Depoimento: Necão Cast*
Participam: Lucas*Nanda*Fanni*Marco
Entrevista gravada em maio de 2009*

                                                                             
                                                     Estréia do Hallai!!!!


CONCERTO / - II –
DATA : 9 DE NOVEMBRO DE 1975.
Local: Araújo Vianna
Porto Alegre.
Estréia do Hallai Hallai
Sid , Paulinho & Necão.

SID CAST*PAULINHO ZAM*NECÃO CAST

P/ Fanni – O concerto número dois, foi o da estréia do Hallai, antes do grupo entrar no palco, me fale um pouco da nossa cidade...como eram as coisas todas que rolavam por aí ?

R/ Necão – Pra vocês terem noção, o presidente do Brasil era o General Geisel ,e o prefeito de Porto Alegre era o Vilela; Me lembro que ele tinha inaugurado duas praças... (risos)... a praça Argentina e a Raul Pilla... morava na Salgado e gostava de apanhar sol nas duas praças...foi ótimo..., a energia que rolava na cidade pra mim , era aquela coisa do Hallai...,tudo direcionado a favor do grupo, pois as nossas músicas estavam a mil, rodando no Mr: Lee, ...claro que todas aquelas razões ideológicas do MDB e da ARENA , os únicos partidos que existiam, levavam toda aquela complexidade para as cabeças das pessoas,...,reivindicações nacionalistas, apoio a certos direitos ; Interesses pessoais , claro que a gente vivia tudo isso, aquele mundo instável em uma sociedade despreparada para se defender.... neste mundo inseguro... nós todos do grupo, nos refugiávamos, atrás das muralhas musicais do HALLAI .
...Aquela coisa de esquecer não existia.... eu pelo menos procurava ler a cidade a minha maneira,...me lembro que aqueles filmes históricos, estavam nas telas dos nossos cinemas...Woodstook, no Capitólio ali na descida da Borges,o Gime Shelter , no Cine ABC , na Venâncio ...até o Juventude Transviada , tava passando no Vogue, da Indepê , cinema de arte... as coisas custavam a chegar por aqui , não é como hoje , passou lá... passou aqui... me lembro também que o grupo “ Terço”, O “Liverpool”, e os “Mutantes “ estavam preparando um grande show para o “Gigantinho”..., o Paul Mcartney já estava com o grupo “Wings”... eu fiquei “p” com isso...me lembro ...achava uma traição para com os outros dos Beatles... nem todos , também, conseguiram entrar no Vivendo a Vida de Lee , e estavam vivos também na cidade...o Grupo Pentagrama, do Ivaldo Roque , Jerônimo Jardim e da Loma tocavam num bar famoso chamado “Vinhadalho”, o Cândido Norberto tinha uma coluna na “Zero Hora “ chamada “Sala de Redação”...a Lúcia Helena , também já estava no pedaço,(como se dizia) na noite de Porto Alegre... a Anna Mazzotti e o Tijolinho já faziam aquele “jazz” com o grupo “Desenvolvimento...o famoso café “Rian”, da Rua da Praia.... as boutiques da 24 de Outubro, e da Indepê.... parecido com aquele clima da ”Oscar Freire ”... não existiam shoppings....nem internet... e,muito menos telefone celular... as novidades estavam nas ruas, e você tinha que descobrir, no faro do perdigueiro pessoal, do seu nariz...já tinha também questionamentos sobre os parcos investimentos no cinema gaúcho... as mesmas discussões de muitas coisas, que ainda hoje se falam ! ...outros músicos já estavam também na batalha , o Bebeco Garcia, O Mutuca ,...eles não viveram a vida de Lee , o que foi uma grande perda para a história de Porto Alegre, pois eles tinham tudo a fazer naqueles concertos...,o Lutzenberguer já defendia as árvores de nossa cidade..., o “Lupi” , já não existia , somente suas músicas estavam a tocar nas noites do Porto. Estes são os primórdios de todo este caldo cultural (1975)... parece primitivo...mas esta era a atmosfera que nos cercava...,a gente lia “Uma Estranha Realidade” do Castaneda, e se sentia bem feliz... voltava para casa e encontrava a família, aquela segurança, todos vivos,e a música rodando na “super quente” ...’Good-Good Night / Cinzenta América//Do homem Ouro/ Dhinnero / Money!/..tum...dum ...dum...dummm.(no bordão).!
Tanta coisa ....a gente acreditava na virtude.../ 1975; a memória me leva apenas a esta superfície, tudo foi mais profundo,mais intenso .


Lucas- Necão, senti uma rota de colisão, entre este mundo que tu relatou com o mundo que nós vivemos hoje..(.a sociedade virtual)...a batalha pelo acesso a vida , e as oportunidades eram bem menores, muito mais sacrificantes, eu acho, que por isso tudo, o valor de um projeto artístico era bem maior,tudo era mais focado, mais único, hoje os artistas de um modo geral , não se fixam mais em determinada coisa, aquele som feito pelos amigos de infância é jóia rara, o som do bairro, aquela “bebida” compartilhada depois do ensaio, aquele “dá um abraço no teu pai “ , que revelava o convívio familiar , e o pé na estrada.. O som dos anos 60 e 70, levam na “mochila”, todas estas delicadezas das pernas e dos pés que na verdade construíram a passos as notas do rock ,blues,folk, e tudo o mais.

Necão/ - As coisas hoje estão mais evidentes, a realidade está muito mais presente, hoje é a fábula do fraco X forte.....e com a trilha que leva o nome ...-“ “ - "te orienta rapaz , não sonhes muito" .
Antes era assim...quando Neil Cassady encontrou Kerouac em Denver , disse. “ Seu filho da puta, finalmente você caiu na estrada”. (1960) ( hurra !...e palmas !)
( On the Road)
-
AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA-
Domingo/ 9 de novembro/1975

Nanda / - Fala aí Necão...chegou a hora da estréia do HALLAI ?

Necão/ - A ascensão até chegarmos neste grande dia foi aberto entre cinzas e areia movediça ...cinzas , porque nós, Sid / Paulinho & Necão estávamos no periodo da muda da fênix...saímos do Rio...fizemos as “Rodas de Som” do Arena, e agora , Vivendo a Vida de Lee.. (5.500 pessoas).. / areia movediça, o palco do “Araújo Vianna” estava nos esperando como um crocodilo, a qualquer momento ele te cortaria em pedaços ... nós 3 , num cérebro só , com violas Plugadas com fita isolante pelo Egon da Cotempo ; na história do “Araújo”, nunca soube de uma lotação de 5.500 pessoas , tinha gente na marquise do auditório... nossos violões apesar de serem lançamentos da “Del Vechio” eram naturalmente violões nacionais , comprados na “Mesbla” (Sid & Necão ) o violão do Paulinho era o famoso “velho xerife”, um gianninni histórico , mas também sem captação...violão importado naquele época , quem tinha era considerado o “cara”...me lembro que nós ensaiávamos toda semana no bairro da Glória (casa do pai) ... preparamos as músicas que a gente curtia e que estava rodando no mr: Lee...era um dia de sol em Porto Alegre...o Júlio, agitou durante 10 dias a mídia do concerto do “Araújo”... incendiou a cidade...- É aki xará que rola o som natural de Lee...som feito com rodagem máxima nos estúdios da Continental...dia 9 no “Araújo” o som de Lee...a gente escutava todo dia, colado no rádio...na mesma semana o Júlio levou todos os músicos na “Ordem”para regularizar e tirar as carteiras de músicos...todos foram em Canoas...e fizeram os exames ... o Júlio pensava sempre no outro lado da moeda, (dólar) a coisa não vai ficar só aqui no Rio Grande do Sul, dizia ele...Coast of Coast...pregava ele ...o Brasil vai tremer com a “Vida de Lee”... e a hora chegou...me lembro que o Sidão disse, que iria acender algumas velas, conselho de um guru...os bastidores do “Araújo estavam demais ...era músico pra tudo quanto é lado...afinando , ensaiando...dando os últimos retoques ...cada um no seu camarim, dividido com panos ...se me lembro bem...toda inteléquia de Porto Alegre estava presente, até o Glênio Reis, o grande Glênio...foi o primeiro cara que nos viu tocar nos anos “60”, junto com o Salin...os dois produziam o programa na T.V. Gaúcha do próprio Glênio...existia uma ligação entre todos ...a arte não é ilusão...”que venga el toro”...era cereja com torta de sorvete,(On the Road).
O Carlinhos Tatsch do “Bizarro”, com aquela expressão londrina , jovem com cara de frio....(risos) ...uma figura.../ o Inconsciente Coletivo...3 jovens nascidos das páginas de Shakespeare com um forte love history folk...um barato/...o Hermes Aquino...com aquela cara Frank Zappa/...o “Utopia” tinha todo um astral de “Mutantes...era o novo...violinos , violões... aquela coisa de Porto Alegre...moderna...tipo assim Museu do Margs...com todas as telas nos salões
expostas a plebe ignara/...o Kalique e o Garaí já estavam juntos naquela época...com o grupo “Mercado Livre”... era um som rural técnico/...o Gilberto Travi ...e o mano dele ...gente especial...o vocal das meninas era muito bom/...
...o Zacarias era uma coisa meio “Santana”/...o Fernando Ribeiro, o Toneco e o Arnaldo ...faziam aquela “cara” de MPB... tipo ...-“Um país de escravos é um país sem povo”...eles seguravam esta parte com grande afinco/...o Eduardo Pires e seu mano Ewerton Pires...faziam um som muito legal com o grupo “Metamorfose”..altos violões/...o Mantra do Zé Flávio... era demais... um som progressivo...tinha aquela cultura individual..”.mistura de centro do país” com ecos londrinos americanos/...o Status 4...que depois foi 4+ 4 , vocal MPB com forte influência “daquele jeito Sidney Poitier”, misturado com o Harry Belafonte,/o “Flor de Cactus” parecia aquelas bandas de Berlin, com um super ego todo de Novo Hamburgo, achei assim...tipo “Almoço Nu... do Willian Burroughs/ ......o “Araújo Vianna” não tinha teto, era o maior barato(beleza), aquela concha acústica branca, parecia uma “White Mountain”, de dia o sol , de noite a lua e as estrelas, os astros participavam também , dando toda aquela beleza natural de Lee (risos)...tem um aspecto aí , que eu não posso deixar de falar , e que isto fique registrado com louvor ...foi o comando , a liderança, e o astral do Júlio, (Mr.Lee)...eu acho que foi o grande ápice da carreira do Júlio...ele acreditava muito mais que nós naquele movimento, e naquele dia ele representou como nunca , aquele “Velho Cowboy “ defensor das mocinhas incautas e virgens da cidade de “Santa Fé”...o movimento tinha aquela coisa de “Born to be Wild”,(” Easy Raider “)apesar, de naquele dia , ter muito som, que não tinha nada a ver com o mundo de Lee...mas aquilo era apenas uma amostragem , depois eu entendi...o Júlio representava também aquela “terra sem fim”, uma linha reta sem limites...passando por florestas ,pântanos,desertos, montanhas,em busca da terra do encantamento/...

Já era noite , quando o Mr. Lee, chamou o Hallai Hallai ao grande palco do “Araújo”, .. com aquela voz de FM,”- -PESSOAL SACA ESTA NOVA BANDA DA GRANDE PORTO ALEGRE, É O HALLAI HALLAI, MUITA VIOLA E VOCAL .


                                                            Sidão & Paulinho Velho Tchêrife


A sorte estava lançada, e nós pisamos pela primeira vez as pedras do palco do “Araújo”....3 caras , 3 violões...3 vozes ...solo e contra/solo base....começamos com uma música com acordes “woodstookinianos”, novinhos em folha.... . esta canção tinha 10 minutos...olha só a coragem ...naquele momento o “Araújo” estava completamente lotado...a introdução era” pau puro “ (risos), rang...tang...rang..
tang...rang... eu entrava/ ...BATA DE NOVO JOE LOUIS / NOVAMENTE BRENDA / FALE SOL , LUTHER KING/ MARYLIN, SORRIA.../NO AZUL DO HAWAI.../ LENNON AGAIN.../POR FAVOR LIVERPOOL / REI PELÉ FAÇA O GOOOL/ REI PELÉ FAÇA O GOOOOOOL !/ (puta vocal)
...obs. entrava vocal a partir de”Lennon again” /3 vozes...depois Cantamos “AMÉRICA”, que estava rodando no programa , TRIBUTO AOS BEATLES, que também rodava na Contí.
VENTO MINUANO” ...música que mostrava um outro lado da cidade, com citações em linguajar/ street & campo...fizemos ,também SOM ,PROMESSA , HALLAI...e a música GUAIBA...uma canção com acordes; tipo Carol King;... que mostrava o valor da água do nosso rio...tudo saiu muito bem...sem contra baixo, sem teclado e sem batera... sangue puro das estradas secundárias da grande Porto Alegre...só violão e vocal...pra/ 5.500 pessoas... inesquecível, quando tocamos a música “AMÉRICA”, ela estava rodando , a mil na “Conti”e, o público ouviu em silêncio total...e uma grande ovação no final comprovou, que o desafio de apenas 3 violões e vocal era o caminho do Hallai...”Se você piscar os olhos quando passar por esta estrada, você não verá Winowa “.
(Route 66)

Marco / - Na opinião do Necão, quem realmente estava no espírito do movimento, e que a história , depois registrou, como um “Woodstook”de energia em plena Porto Alegre ...foram ... Júlio Furst (Mr.Lee), Inconsciente Coletivo, Hermes Aquino, Bizarro, Fernando Ribeiro, Hallai Hallai, Mantra, Utopia, Flor de Cactus , Almondegas.
Isto representou o novo, naquela noite do( 2º ) Concerto do “Vivendo a Vida de Lee). *** Ali naquele palco do “Araújo Vianna, foi tatuado na pedra ...! “TU ÉS FOLK , E SOBRE ESTE PALCO , EDIFICAREI ESTE MOVIMENTO”.

P/ Lucas – Necão, aproveitando esta frase ... se tu fosses fazer uma análise, tipo assim...café filosófico....como seria este dia do 2º Concerto ?

R/ Necão – Deixa eu pensar um pouco... ( - ) eu levaria para o lado das lendas,
“As mil e uma noites”, com toda aquelas fantasias...o “Araújo Vianna “ seria a grande lâmpada, o Mr. Lee , (Júlio), o gênio da lâmpada , nós músicos os “esfregadores” da lâmpada , e a Princesa Badrulbudur nosso objetivo final !


Tudo isto aconteceu no dia 9 de novembro de 1975, num domingo !

(...continua na próxima postagem...)


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