terça-feira, 26 de maio de 2009

>DEPOIMENTO > ( 4 )






VIVENDO A VIDA DE LEE 2°CONCERTO*


                             -VIVENDOLOGÍA DE LEE-
Depoimento: Necão Cast*
Participam: Lucas*Nanda*Fanni*Marco
Entrevista gravada em maio de 2009*

                                                                             
                                                     Estréia do Hallai!!!!


CONCERTO / - II –
DATA : 9 DE NOVEMBRO DE 1975.
Local: Araújo Vianna
Porto Alegre.
Estréia do Hallai Hallai
Sid , Paulinho & Necão.

SID CAST*PAULINHO ZAM*NECÃO CAST

P/ Fanni – O concerto número dois, foi o da estréia do Hallai, antes do grupo entrar no palco, me fale um pouco da nossa cidade...como eram as coisas todas que rolavam por aí ?

R/ Necão – Pra vocês terem noção, o presidente do Brasil era o General Geisel ,e o prefeito de Porto Alegre era o Vilela; Me lembro que ele tinha inaugurado duas praças... (risos)... a praça Argentina e a Raul Pilla... morava na Salgado e gostava de apanhar sol nas duas praças...foi ótimo..., a energia que rolava na cidade pra mim , era aquela coisa do Hallai...,tudo direcionado a favor do grupo, pois as nossas músicas estavam a mil, rodando no Mr: Lee, ...claro que todas aquelas razões ideológicas do MDB e da ARENA , os únicos partidos que existiam, levavam toda aquela complexidade para as cabeças das pessoas,...,reivindicações nacionalistas, apoio a certos direitos ; Interesses pessoais , claro que a gente vivia tudo isso, aquele mundo instável em uma sociedade despreparada para se defender.... neste mundo inseguro... nós todos do grupo, nos refugiávamos, atrás das muralhas musicais do HALLAI .
...Aquela coisa de esquecer não existia.... eu pelo menos procurava ler a cidade a minha maneira,...me lembro que aqueles filmes históricos, estavam nas telas dos nossos cinemas...Woodstook, no Capitólio ali na descida da Borges,o Gime Shelter , no Cine ABC , na Venâncio ...até o Juventude Transviada , tava passando no Vogue, da Indepê , cinema de arte... as coisas custavam a chegar por aqui , não é como hoje , passou lá... passou aqui... me lembro também que o grupo “ Terço”, O “Liverpool”, e os “Mutantes “ estavam preparando um grande show para o “Gigantinho”..., o Paul Mcartney já estava com o grupo “Wings”... eu fiquei “p” com isso...me lembro ...achava uma traição para com os outros dos Beatles... nem todos , também, conseguiram entrar no Vivendo a Vida de Lee , e estavam vivos também na cidade...o Grupo Pentagrama, do Ivaldo Roque , Jerônimo Jardim e da Loma tocavam num bar famoso chamado “Vinhadalho”, o Cândido Norberto tinha uma coluna na “Zero Hora “ chamada “Sala de Redação”...a Lúcia Helena , também já estava no pedaço,(como se dizia) na noite de Porto Alegre... a Anna Mazzotti e o Tijolinho já faziam aquele “jazz” com o grupo “Desenvolvimento...o famoso café “Rian”, da Rua da Praia.... as boutiques da 24 de Outubro, e da Indepê.... parecido com aquele clima da ”Oscar Freire ”... não existiam shoppings....nem internet... e,muito menos telefone celular... as novidades estavam nas ruas, e você tinha que descobrir, no faro do perdigueiro pessoal, do seu nariz...já tinha também questionamentos sobre os parcos investimentos no cinema gaúcho... as mesmas discussões de muitas coisas, que ainda hoje se falam ! ...outros músicos já estavam também na batalha , o Bebeco Garcia, O Mutuca ,...eles não viveram a vida de Lee , o que foi uma grande perda para a história de Porto Alegre, pois eles tinham tudo a fazer naqueles concertos...,o Lutzenberguer já defendia as árvores de nossa cidade..., o “Lupi” , já não existia , somente suas músicas estavam a tocar nas noites do Porto. Estes são os primórdios de todo este caldo cultural (1975)... parece primitivo...mas esta era a atmosfera que nos cercava...,a gente lia “Uma Estranha Realidade” do Castaneda, e se sentia bem feliz... voltava para casa e encontrava a família, aquela segurança, todos vivos,e a música rodando na “super quente” ...’Good-Good Night / Cinzenta América//Do homem Ouro/ Dhinnero / Money!/..tum...dum ...dum...dummm.(no bordão).!
Tanta coisa ....a gente acreditava na virtude.../ 1975; a memória me leva apenas a esta superfície, tudo foi mais profundo,mais intenso .


Lucas- Necão, senti uma rota de colisão, entre este mundo que tu relatou com o mundo que nós vivemos hoje..(.a sociedade virtual)...a batalha pelo acesso a vida , e as oportunidades eram bem menores, muito mais sacrificantes, eu acho, que por isso tudo, o valor de um projeto artístico era bem maior,tudo era mais focado, mais único, hoje os artistas de um modo geral , não se fixam mais em determinada coisa, aquele som feito pelos amigos de infância é jóia rara, o som do bairro, aquela “bebida” compartilhada depois do ensaio, aquele “dá um abraço no teu pai “ , que revelava o convívio familiar , e o pé na estrada.. O som dos anos 60 e 70, levam na “mochila”, todas estas delicadezas das pernas e dos pés que na verdade construíram a passos as notas do rock ,blues,folk, e tudo o mais.

Necão/ - As coisas hoje estão mais evidentes, a realidade está muito mais presente, hoje é a fábula do fraco X forte.....e com a trilha que leva o nome ...-“ “ - "te orienta rapaz , não sonhes muito" .
Antes era assim...quando Neil Cassady encontrou Kerouac em Denver , disse. “ Seu filho da puta, finalmente você caiu na estrada”. (1960) ( hurra !...e palmas !)
( On the Road)
-
AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA-
Domingo/ 9 de novembro/1975

Nanda / - Fala aí Necão...chegou a hora da estréia do HALLAI ?

Necão/ - A ascensão até chegarmos neste grande dia foi aberto entre cinzas e areia movediça ...cinzas , porque nós, Sid / Paulinho & Necão estávamos no periodo da muda da fênix...saímos do Rio...fizemos as “Rodas de Som” do Arena, e agora , Vivendo a Vida de Lee.. (5.500 pessoas).. / areia movediça, o palco do “Araújo Vianna” estava nos esperando como um crocodilo, a qualquer momento ele te cortaria em pedaços ... nós 3 , num cérebro só , com violas Plugadas com fita isolante pelo Egon da Cotempo ; na história do “Araújo”, nunca soube de uma lotação de 5.500 pessoas , tinha gente na marquise do auditório... nossos violões apesar de serem lançamentos da “Del Vechio” eram naturalmente violões nacionais , comprados na “Mesbla” (Sid & Necão ) o violão do Paulinho era o famoso “velho xerife”, um gianninni histórico , mas também sem captação...violão importado naquele época , quem tinha era considerado o “cara”...me lembro que nós ensaiávamos toda semana no bairro da Glória (casa do pai) ... preparamos as músicas que a gente curtia e que estava rodando no mr: Lee...era um dia de sol em Porto Alegre...o Júlio, agitou durante 10 dias a mídia do concerto do “Araújo”... incendiou a cidade...- É aki xará que rola o som natural de Lee...som feito com rodagem máxima nos estúdios da Continental...dia 9 no “Araújo” o som de Lee...a gente escutava todo dia, colado no rádio...na mesma semana o Júlio levou todos os músicos na “Ordem”para regularizar e tirar as carteiras de músicos...todos foram em Canoas...e fizeram os exames ... o Júlio pensava sempre no outro lado da moeda, (dólar) a coisa não vai ficar só aqui no Rio Grande do Sul, dizia ele...Coast of Coast...pregava ele ...o Brasil vai tremer com a “Vida de Lee”... e a hora chegou...me lembro que o Sidão disse, que iria acender algumas velas, conselho de um guru...os bastidores do “Araújo estavam demais ...era músico pra tudo quanto é lado...afinando , ensaiando...dando os últimos retoques ...cada um no seu camarim, dividido com panos ...se me lembro bem...toda inteléquia de Porto Alegre estava presente, até o Glênio Reis, o grande Glênio...foi o primeiro cara que nos viu tocar nos anos “60”, junto com o Salin...os dois produziam o programa na T.V. Gaúcha do próprio Glênio...existia uma ligação entre todos ...a arte não é ilusão...”que venga el toro”...era cereja com torta de sorvete,(On the Road).
O Carlinhos Tatsch do “Bizarro”, com aquela expressão londrina , jovem com cara de frio....(risos) ...uma figura.../ o Inconsciente Coletivo...3 jovens nascidos das páginas de Shakespeare com um forte love history folk...um barato/...o Hermes Aquino...com aquela cara Frank Zappa/...o “Utopia” tinha todo um astral de “Mutantes...era o novo...violinos , violões... aquela coisa de Porto Alegre...moderna...tipo assim Museu do Margs...com todas as telas nos salões
expostas a plebe ignara/...o Kalique e o Garaí já estavam juntos naquela época...com o grupo “Mercado Livre”... era um som rural técnico/...o Gilberto Travi ...e o mano dele ...gente especial...o vocal das meninas era muito bom/...
...o Zacarias era uma coisa meio “Santana”/...o Fernando Ribeiro, o Toneco e o Arnaldo ...faziam aquela “cara” de MPB... tipo ...-“Um país de escravos é um país sem povo”...eles seguravam esta parte com grande afinco/...o Eduardo Pires e seu mano Ewerton Pires...faziam um som muito legal com o grupo “Metamorfose”..altos violões/...o Mantra do Zé Flávio... era demais... um som progressivo...tinha aquela cultura individual..”.mistura de centro do país” com ecos londrinos americanos/...o Status 4...que depois foi 4+ 4 , vocal MPB com forte influência “daquele jeito Sidney Poitier”, misturado com o Harry Belafonte,/o “Flor de Cactus” parecia aquelas bandas de Berlin, com um super ego todo de Novo Hamburgo, achei assim...tipo “Almoço Nu... do Willian Burroughs/ ......o “Araújo Vianna” não tinha teto, era o maior barato(beleza), aquela concha acústica branca, parecia uma “White Mountain”, de dia o sol , de noite a lua e as estrelas, os astros participavam também , dando toda aquela beleza natural de Lee (risos)...tem um aspecto aí , que eu não posso deixar de falar , e que isto fique registrado com louvor ...foi o comando , a liderança, e o astral do Júlio, (Mr.Lee)...eu acho que foi o grande ápice da carreira do Júlio...ele acreditava muito mais que nós naquele movimento, e naquele dia ele representou como nunca , aquele “Velho Cowboy “ defensor das mocinhas incautas e virgens da cidade de “Santa Fé”...o movimento tinha aquela coisa de “Born to be Wild”,(” Easy Raider “)apesar, de naquele dia , ter muito som, que não tinha nada a ver com o mundo de Lee...mas aquilo era apenas uma amostragem , depois eu entendi...o Júlio representava também aquela “terra sem fim”, uma linha reta sem limites...passando por florestas ,pântanos,desertos, montanhas,em busca da terra do encantamento/...

Já era noite , quando o Mr. Lee, chamou o Hallai Hallai ao grande palco do “Araújo”, .. com aquela voz de FM,”- -PESSOAL SACA ESTA NOVA BANDA DA GRANDE PORTO ALEGRE, É O HALLAI HALLAI, MUITA VIOLA E VOCAL .


                                                            Sidão & Paulinho Velho Tchêrife


A sorte estava lançada, e nós pisamos pela primeira vez as pedras do palco do “Araújo”....3 caras , 3 violões...3 vozes ...solo e contra/solo base....começamos com uma música com acordes “woodstookinianos”, novinhos em folha.... . esta canção tinha 10 minutos...olha só a coragem ...naquele momento o “Araújo” estava completamente lotado...a introdução era” pau puro “ (risos), rang...tang...rang..
tang...rang... eu entrava/ ...BATA DE NOVO JOE LOUIS / NOVAMENTE BRENDA / FALE SOL , LUTHER KING/ MARYLIN, SORRIA.../NO AZUL DO HAWAI.../ LENNON AGAIN.../POR FAVOR LIVERPOOL / REI PELÉ FAÇA O GOOOL/ REI PELÉ FAÇA O GOOOOOOL !/ (puta vocal)
...obs. entrava vocal a partir de”Lennon again” /3 vozes...depois Cantamos “AMÉRICA”, que estava rodando no programa , TRIBUTO AOS BEATLES, que também rodava na Contí.
VENTO MINUANO” ...música que mostrava um outro lado da cidade, com citações em linguajar/ street & campo...fizemos ,também SOM ,PROMESSA , HALLAI...e a música GUAIBA...uma canção com acordes; tipo Carol King;... que mostrava o valor da água do nosso rio...tudo saiu muito bem...sem contra baixo, sem teclado e sem batera... sangue puro das estradas secundárias da grande Porto Alegre...só violão e vocal...pra/ 5.500 pessoas... inesquecível, quando tocamos a música “AMÉRICA”, ela estava rodando , a mil na “Conti”e, o público ouviu em silêncio total...e uma grande ovação no final comprovou, que o desafio de apenas 3 violões e vocal era o caminho do Hallai...”Se você piscar os olhos quando passar por esta estrada, você não verá Winowa “.
(Route 66)

Marco / - Na opinião do Necão, quem realmente estava no espírito do movimento, e que a história , depois registrou, como um “Woodstook”de energia em plena Porto Alegre ...foram ... Júlio Furst (Mr.Lee), Inconsciente Coletivo, Hermes Aquino, Bizarro, Fernando Ribeiro, Hallai Hallai, Mantra, Utopia, Flor de Cactus , Almondegas.
Isto representou o novo, naquela noite do( 2º ) Concerto do “Vivendo a Vida de Lee). *** Ali naquele palco do “Araújo Vianna, foi tatuado na pedra ...! “TU ÉS FOLK , E SOBRE ESTE PALCO , EDIFICAREI ESTE MOVIMENTO”.

P/ Lucas – Necão, aproveitando esta frase ... se tu fosses fazer uma análise, tipo assim...café filosófico....como seria este dia do 2º Concerto ?

R/ Necão – Deixa eu pensar um pouco... ( - ) eu levaria para o lado das lendas,
“As mil e uma noites”, com toda aquelas fantasias...o “Araújo Vianna “ seria a grande lâmpada, o Mr. Lee , (Júlio), o gênio da lâmpada , nós músicos os “esfregadores” da lâmpada , e a Princesa Badrulbudur nosso objetivo final !


Tudo isto aconteceu no dia 9 de novembro de 1975, num domingo !

(...continua na próxima postagem...)


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terça-feira, 12 de maio de 2009

DEPOIMENTO * ( 3 )





                                   Mensagem aos filhos da terra : *Hallai*Hallai*
                             Entrevistado* Necão Castilhos (06/05/2009)
                             Participam: Fanni (Steffani Dias-Layot Produções)
                                              Nanda ( Ananda Souza Morais-Publicidade)
                                              Lucas (Alberto Lucas Ribeiro-Jornalista)
                                              Marco ( Marco Silveira Silva-UFRGS)


                                     V I V E N D O L O G Í A
                                              DE L E E* 



P/ Lucas- Já diziam os bruxos que a perfeição se encontra no caminho do meio, no equilíbrio e na harmonia entre os opostos; Os chineses chamam isso de “TAO”,o princípio que regula Yin e yang, as duas grandes forças que movem o mundo, isto quer dizer “meu véio”, onde uma termina a outra começa, fazendo girar a roda da vida...por isso gostaria que vocês transcrevessem algumas opiniões que eu li, de gente importante na época de Lee, pois me parece que esta é a oportunidade de colocar-mos na roda, certos questionamentos para que esta falsa, falta de drama dos artistas gaúchos, é o que leva ao caos todo e qualquer movimento em busca de um mercado que não seja esta coisa antro(pop)fágica, que sempre cortou todos os sonhos.



Comentários sobre o movimento
                                                             
Agosto /1975...falou Ney Gastal (jornalista)...-Estamos nos momentos iniciais de uma explosão musical que pode ser importante para a música popular brasileira como foi a dos baianos na épocas do tropicalismo, o que não significa necessariamente que vá ser. É preciso mais, é preciso consciência do que fazer e como fazê-lo...A explosão gaúcha pode ser nacional. Resta agora saber quantos por aí terão capacidade de superar as limitações que lhes foram impostas por anos de esvaziamento cultural.

Agosto/ 1975...falou Juarez Fonseca (jornalista)...Preste atenção: o rock profissional está chegando em Porto Alegre.

Novembro/ 1975...Zero Hora ...A explosão foi tão grande que as fronteiras do Rio Grande do Sul, desta vez, não conseguiram contê-la. Os jornais do Rio e São Paulo, mais as revistas especializadas em música estão impressionados Nelson Motta ( O Globo) e Tárik de Souza (Jornal da Tarde), principalmente o primeiro, tem mencionado constantemente nosso movimento musical. A revista Pop também.

Maio/ 1976...falou Maria Wagner (jornalista)...O que acontece é que em Porto Alegre já existem – felizmente alguns talentos reconhecidos e sempre bem recebidos pelo público. Em outras palavras, um mercado para a música feita por gaúchos esta se formando no próprio Rio Grande do Sul. Maria Wagner destaca ainda o Inconsciente Coletivo e Fernando Ribeiro que , segundo ela, extrapola na apreciação crítica do que o rodeia.

Setembro/ 1976...Zero Hora....Tôdas as apresentações pelo interior também tiveram lotação esgotada.A exceção foi Passo Fundo.

Setembro /1976...Zé Flávio (músico) ...O movimento não que tenha sido feito em função da rádio. Ia ser feito de qualquer maneira, já estava sendo feito. Mas a rádio foi o grande mote.

Outubro/ 1976...Zero Hora....Pela primeira vez , músicos gaúchos fazem parte de trilhas sonoras de novelas da Globo, o que garante grande projeção.

Outubro/ 1976... Músicos de Curitiba...Vivendo a vida de Lee, é que poderia ser mudado, porque a coisa já cresceu mais do que a simples marca do patrocinador.

Dezembro/ 1976... Juarez Fonseca (jornalista)... O Teatro Leopoldina estava lotado nos dois dias, uma prova de que a locomotiva tem carvão (ou óleo) suficiente para prosseguir, e até para tentar novos caminhos. Vamos ver o que Júlio e Bayar pretendem fazer agora, porque eles também devem estar pensando nisso tudo.

Dezembro/ 1976...Américo Bender (diretor /marketing da Lee ) ...O diretor da Continental Fernando Westphalen, queria muito dinheiro e não arredou pé. O preço que o Judeu queria equivalia a toda verba disponível por Bender para divulgação.
Acabou o negócio.

Fernando Westphalen (Judeu /diretor da Continental) " Com o tempo começamos a ver que não íamos chegar a lugar nenhum.Foi um sonho de uma noite de verão. Mas não me arrependo de nada".

Obs: opiniões dadas no livro do Lucio Haeser.

Nanda – Isto veio em boa hora e de uma maneira vem colaborar para elucidar esta “ilusão” do estado benfeitor,no caso a Continental em relação aos músicos de Porto Alegre. Tudo sempre foi assim , quando um maior número de pessoas começam a tomar contato com a obra (músicos ) entra a anto(pop)fagia)e então começa a diluição.Esta de herói das comunicações não existe .

Fanni – Enquanto Porto alegre ficar pensando que o mercado artístico da cidade é o “País do amanhã”, mal sabem eles os empresários , músicos,gente do meio, produtoras, Tvs, rádios, Teatros etc... que amanhã é feriado.

Marco – E tem também o seguinte : - A tal revolução tecnológica, a evolução do pensamento,as ocorrências que mudam a vida da gente, novos teatros , novas salas, Porto Alegre sempre assentua tudo isto, mas sempre me parece que os músicos de Porto Alegre estão sempre tentando vender o charque da revolução farroupilha para os ingleses (risos...) muitos (risos)...quem sabe agente começa a comer este charque aqui em Porto Alegre e deixar de sonhar com esta coisa, de que lá é melhor que aqui , para sentir o gosto de tudo isso ....agora tem o seguinte para conseguir o Teatro São Pedro só com “padrinho”, existe um projeto de música gaúcha que está a 3 anos na fila e não consegue entrar.,( produtora gaúcha) Para conseguir o Teatro da UFRGS, só pagando 4.900,00 reais + luz , som e divulgação, por apenas uma noite , é mole?
Toda essa falta de crédito foi plantada por todos , e começou com previsões erradas.Ninguém pensou naquela época , nas possibilidades imensas de um mercado que estava nascendo em nossa cidade. As grandes empresas , as grandes marcas,não mantem posição apenas conservando suas virtudes. Uma luz pelo menos hoje , começa a brilhar na cidade , eu acho assim , que é a Busina do Gazômetro .

Necão – Depois” deste papo” de vocês, não preciso mais falar nada,viva esta nova geração...e tem mais ...a teoria do “caos”, sempre foi o modo de pensar de todos nós, (antropofagia gaúcha) e quando surgiu a possibilidade de colocar-mos uma oposição geométrica em tudo isto, o Bender da Lee recebe um nãoooooooooooo, do tamanho do “Gran Canion”,... aqueles sonhos que o Júlio (Mr. Lee)em altos papos ,bradava aos céus na General Câmara , e que eu e Paulinho ficávamos ouvindo e viajando na beleza ao som dos músicos de Porto Alegre.....
”Há meu Macho Picho / Ninguém segura este meu delírio/ Há olhos vermelhos/Cuca cansada/ De mil colírios ...Costa a Costa ( Coustof Coust ) o programa do Mr. Lee seria assim para todo o Brasil... o Júlio falava assim ,com grande convicção...
As pedras da “General “ se transformavam num quintal “QUIXOTESCO”,... eu e Paulinho saíamos dali com a luz do sol, em plena meia noite, caminhando pela Rua da Praia, em busca de algo para comer ,... a noite acabava, com um belo cachorro quente na Praça Rui Barbosa com duas lingüiças com trema (risos... muito risos...)
A vida é bela.......!!!!!!! Ninguém é de ferro .

pausa (-) para o lanche.......

Marco/ - Pessoal , acontece assim: quando vou verter para o blog, esta conversa toda que esta sendo gravada,eu coloco em bloco ,perguntas e respostas...,ainda mais agora que vocês entraram no espírito da coisa , e estão se conhecendo muito melhor, os apartes ficam inseridos no seguimento de ambas( ...perguntas e respostas.....) tem que ser assim, porque o objetivo é não só ficar no “blog”, mas transformar tudo isto, brevemente , em livro, e o foco de todo este” papo”,não pode se perder , ao ponto de perder-mos aquela coisa Hallai, ou aquela estrada /Vou para Matcho Picho / Ouvir as flautas de muito além/ (pra seguir no clima do Hermes Aquino)

Fanni/ - Marco, depois que terminar este assunto, a coisa toda não pode ficar assim...vamos continuar a nos reunir uma vez por mês, para continuar...tipo assim, a crítica da crítica...tem muita coisa na roda que o” Blog do Necão” poderia levantar e com isso descobrir-mos outras pessoas ,outros aspectos do nosso cotidiano histórico, ou não !?!?

(aplausos) idéia aprovada por todos.

Necão /- Agora tem uma coisa , pelo menos por enquanto,eu estou focado na música , todos os meus questionamentos me levam a” dona música”, e o” mercado de vidro” de Porto Alegre , sei que a entrevista está avançando para o Teatro, Artes Plásticas , Dança, literatura...mas , reafirmo que pela música nós podemos avançar e verbalizar todas estas questões que falam de um modo geral da arte que nos cerca.
Hu hu hu hu hu hu hu (estalos de dedos e sussurros).
´
A roda de conversa foi longe, já não tinha mais pão,o café estava no fim, o salamito italiano” acabou chorare”.
Obs: O relógio estava marcando 3:00 horas da manhã. E, depois do lanche deu uma canseira em todo mundo.




Continuação...dois dias depois...



                                                                                                                                                        
                                                                                                                              

*Cine Theatro Presidente, (13*agosto*1975) onde se realizou o primeiro Concerto*
                                                                               
                                                                                                                                                                                      
                                                                                                                                            
P/ Fanni – O primeiro concerto da lee , onde vocês estavam?
R/ Necão – Realmente não sei , eu particularmente estava dentro do Teatro Presidente...(risos), engraçado que no início eu não me lembro de estar( let be) escutando a Continental, eu vivia de uma certa forma naquele bairro, freqüentava muito um bar chamado “O Barquinho” ali na São Pedro me lembro que quase todas as noites eu ficava ali curtindo os musicos que tocavam naquele bar,passava também no famoso “Quartinho” onde Telmo,Ricardo e Sales começaram a fazer um som“Minas Gerais”, muito bom e vocalizado.

P/ Lucas – Fale um pouco daquela noite histórica , qual foi o clima no Cine Presidente ?

R/ Necão
Eu não sei como, mas já estava com um ingresso dentro da minha jaqueta lee, naturalmente (risos)...depois que entrei com um grande esforço naquele empurra,empurra, sentei bem no meio da platéia...pra resumir... o que mais me chamou a atenção foi a apresentação do Hermes Aquino cantando “Macho Picho”, aquela coisa estóica do Hermes ,dirigindo a todos nós, para aquela viagem de sonhos,nos dando a visão exata da reconquista da utopia,fazendo da própria vida sua obra prima ,naqueles versos geniais, imersos no visionário .
/há meu Macho Picho ninguém/ segura este meu delírio/ há olhos vermelhos/ cuca cansada de mil colírios/...

...esta outra parte é emocionante...
/volto pra casa/ esquento café no fogão/ tomo café brasileiro/ e vejo futebol na televisão/ ...( todos cantaram juntos ).... a realidade de todos neste verso do Hermes; aquele , On the Road”, quando estamos cansados da rua , voltamos pra casa , abrimos o forninho do fogão, e lá esta aquela “paparia” que só alguém que gosta realmente de nós, deixa ali “morninho”, pronto para comer, saciando aquela fome da madrugada...(salve, negra Iara !...salve, grande Eliana...)


P/ Nanda ...fale mais...

Necão - Senti agora por incrível que possa parecer, um pouquinho daquela emoção de estar lá naqueme momento em que tudo estava acontecendo, outra coisa ..., sempre que "pintava" som de músicos gaúchos em Porto Alegre, eu sempre procurava uma forma de ir , de não faltar, isto acontecia com todos , era uma onda por toda cidade. E foi assim ,  quando me dei conta estava em frente do Cine Presidente, parecia uma convenção de um partido politico americano, carrinhos de algodão doce , balões, carrinhos de pipoca, gente suplicando por ingresso, celebração com o som local.

R/ Necão - Aquele momento foi o grande “loop” de Porto Alegre, me lembro também do Chaminé , do Laurinho , tinha outro na guitarra, que se não me engano, foi o único concerto em que ele tocou...aquela cena do Hermes pra mim foi o novo, a grande sacada, os subterrâneos expostos no palco, a pá ,em que me reviro...(palmas..kláp..kláp..)

P/ Fanni – Necão , bota inspiração nisso...sabe , que eu nunca tive esta consciência sobre qualquer música...a força de uma canção, agora começo a entender aquela energia que tu falaste no começo da entrevista... ,a energia dos músicos que entraram no elevador da Continental em busca daquele velho sonho de estrada, que na verdade é uma visão romântica de si mesma , quer dizer valor em si.

P/Lucas/ - Este olhar sobre a música de Porto Alegre é demais ,...isso tudo , vem resgatar a emoção primeira, os primeiros passos de um projeto, movido pela cidade, impulsionado pela vibração, em alta escala, dos músicos de Porto Alegre....porque acontece assim...quando você esta em frente de um quadro falso ,você olha assim, bem feito,mas falta a pulsação do artista , a emoção primeira ,o sulco das pinceladas que quando identificamos nos provoca um arrepio. Esta idéia foi escrita pelo Pompeu de Toledo , que praticamente eu decorei depois de uma aula na faculdade, ...então , estar no local onde tudo está acontecendo é privilégio ,e saber interpretar, aí sim...a coisa vira um documento histórico...eu estive lá....eu vi....eu escutei ...eu fui testemunha... imagine quem esteve em Woodstook...e assim por diante,...a história dos músicos de Porto Alegre, foi sempre vista como uma coisa assim menor,e todo o artista menor tem toda trágica infelicidade e a tristeza dos grandes artistas internacionais e ainda por cima não é grande.

Necão/ - Tudo isso mostra que o artista não exprimi o ritmo da nossa cidade , quer dizer este mundo visível,fixo, que sempre está mostrando o alerta do sistema,faça isso, faça aquilo...é aquela história , se todo mundo do planeta Terra, ficasse em silêncio por alguns segundos, haveria uma reorganização instantânea aparentemente mágica , talvez até uma mudança nas prioridades do sistema. Aquilo que sempre esteve “no fundo da mente”ou na “ ponta da língua “, não estaria mais lá , ou viria à tona com clareza incomum... isto na minha concepção aconteceu naquela noite no Cine Presidente e nos concertos da Lee, em Porto Alegre e Curitiba..., pra melhor entender,nós sempre estamos pensando , até por pressão da mídia de que, devemos pensar em sair de Porto Alegre, porque aqui não tem mercado para desenvolver uma carreira nacional, tudo é difícil..., e a realidade e o ritmo da cidade, nos mostra que é isso mesmo, os artistas estão num ritmo, e a cidade esta noutro , as coisas começam e param, é igual aquela música do Hartlieb “Voltas”, estamos sempre dando voltas, formando com isso , uma rota de colisão.
Aquela noite do primeiro concerto, fez vir a tona,com clareza incomum toda esta divisão, pois as coisas que estavam represadas vieram a tona e foram colocadas da “ponta da língua” para o público que estava presente no Presidente..., o ritmo era outro... a cidade teve que entrar no balanço para não “dançar”. Até jornalistas ficaram de fora, chegaram atrasados , o ritmo deles era o ritmo de Porto Alegre, por isso não viram nada, e também não fotografaram .É complicado pra entender toda esta digressão , somente com alguns anos de análise para tirar da mídia de Porto Alegre , esta coisa que tu falaste do músico gaúcho ter as mesmas vibrações, de qualquer músico do mundo, mas a de carregar o rótulo de ser menor, e que para ser grande tem que sair de Porto Alegre.
O sofrimento realmente é sempre maior, nós pensamos que somos John Lennon e continuamos na garagem com todas as implicações de um grande astro, porém não somos grande , somos pequenos. Orra! Que karma !

Marco / - A história da Revolução Farroupilha nós carregamos no lombo, inconscientemente...,ela nasce...cresce... e declina ...sempre acontece isso com os músicos,com raríssimas exeções.

Fanni/ - Entendi como nunca, o primeiro concerto no Presidente  e outras coisas que foram faladas no início deste depoimento, tu começa a ligar as coisas e entende que a história seja qual for, não é estática , mas dinâmica, ela sempre está em aberto.

Marco/ - Por isso eu coloquei este título : Vivendología
De Lee. (aplausos...aplausos...)

Obs: Macho Picho/ do Hermes Aquino / na opinião do Necão foi a música mais representativa de todo movimento musical daquela época,...tanto na melodia , como na letra, Hermes foi de uma inspiração rara, transformou a cidade , numa usina de sonhos,tirou aquela coisa “day tripper” (dia de tropeçar), e colocou ritmo na aldeia.


Macho Picho
Hermes Aquino
/Faço a mala depressa / uma promessa / não vou quebrar /
/ Sigo pela avenida/ Aeroporto , vou viajar /
/Atravessando os Andes/ De mil , detalhes / Me sinto bem/
/Vou para Macho Picho/ouvir as flautas de muito além/

/Uma desilusão no meu coração/ Se fez de repente/
/No meio da montanha/ Um hotel enorme , cheio de gente/
/Fotos, chicletes, coca, uma massaroca /pra lá & pra cá /
/Nem um Deus / Uma prece/
/Era o Progresso / Chegando ládo lá/

/Há meu Macho Picho / Ninguém segura /
/Este meu delírio/ Há olhos vermelhos/
Cuca , Cansada / De mil colírios/

( ...aplausos...aplausos...)

/ Volto pra casa/ Esquento , café no fogão/
/Tomo café brasileiro/ E vejo futebol na televisão/

/....bis...bis...bis....!!!!!! Com louvor !

                                     
... Continua na próxima postagem.../obrigado !


Necão/ - Alô...Marco....tudo bem...,faz o seguinte só > faz a postagem até o primeiro concerto, depois dá uma pausa... pelo seguinte:A partir daí, a coisa toda começou a ser admitida por toda mídia, ...jornais ,rádio,televisão,público e, o programa do Júlio começou a detonar mais música local, isto foi a grande virada, os músicos começaram a olhar um pro outro e a se respeitarem...e o hallai fez sua estréia.

Marco/ - Tô, com vontade de terminar com a letra do “Macho Picho” do Hermes , devido a todo aquele “papo”, que ficou maravilha , eu estava transcrevendo do gravador para o blog e foi demais...pelo seguinte...se tu escutar colocando todo aquele pensamento em Porto Alegre, também é certo ...veja só..../ Vou para Porto Alegre / ouvir as flautas / de muito além/ ...os músicos , dentro daquela idéia de sempre procurar sair daqui, por íncrível que possa parecer, vão e voltam, mas , só conseguem ouvir as flautas quando estão de volta ,pra saírem novamente do cesto, em busca do horizonte perdido...blz !

Necão/ - Demais....abração ...tchau !

Email: hhallai@ig.com.br
Blog: www.hallai-hallai.blogspot.com . 

                                                           
     ...continua ...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

CENTR@L *HALL@I*HALL@I*

                                     *Mr.Robson*by*necão*Jorge Hill*PaulinhoV.Tchêrife*

                                                              ZONA RESERVADA
                                                                            
                                                               HALLAI MUSIC
                                                (www.Buzinadogasometro.com.br)

                                                                                                                      

                                      Como será feito a música nos séculos seguintes ?
Na robotte, completamente automática, bastando para tal , mexer um botãozínho .

Mas apesar disso tudo ainda, por certo, teremos uma “Zona Reservada”, com a sala da harmonia onde a aparelhagem acústica ramificada com 4 pistas sonoras , vão difundir a música através das vozes & violões.

E, a linguagem mais “fruche” dos compositores dos corredores do Século XX, Bob Dilan, Birds, Beatles ,Stones, Crosby,Stills,Nasch and Young os antepassados da atual expressão musical, como fica ?

Ora ! ...Todos nós iremos procurar a preço de ouro as gravações raríssimas e vetustas das suas obras.

Na certa modestos fanzines extremamente subversivos vão publicar histórias de vocais; temas relacionados com a ficção científica.

Mas, infelizmente os fanzines, depois de algumas horas de euforia , vão acastelar-se, entre nuvens negras nos horizontes solitarios .

Aí , um desenvolvimento fulminante vai produzir em série músicas para uma nova condição humana, a da angustia existencial com acordes em desordens de todo gênero, de um mundo eletronizado, inumano e absurdo.

Uma nova raça, uma espécie de contra-utopia revolucionária irá lançar manifestos contra a “Zona Reservada”,para formar um aparelho crítico e remontar uma nova gênesis, para ali se formar um Deus mecanizado.

                                                       CENTRAL HALLAI*HALLAI

                                                            e-mail: hhallai@ig.com.br






















*PRINCESA DORA*

        
Dora*
     
Summum bonum da vida !
                                             by*necão

Veio por e-mail com o título , “foto de uma princesa”,era quarta-feira de outono, eu estava no centro de Porto Alegre na” lan”, da Vigário.


De onde , de que parte do mundo, será que veio do berço do relâmpago, da pedra estelar , do azul da cordilheira ou saiu das histórias da aurora da minha vida , da minha infância querida que os anos não trazem mais.


Quem sabe uma águia sideral vinda do Himalaia, trouxe esta estrelinha, quando passou pela lua.


Estrela verde, algodão de açúcar, debulha este mistério mesmo que tenha que procurar no eterno, dentro de um cristal de rocha com gotas de um orvalho de milhares de anos.
E, entre a água veloz e o eco dos ventos
a voz do futuro respondeu...é Dora ...,a onda de ouro na direção do tempo.


p.s. ( estes escritos é uma homenagem ao mano hallai Sidão, e a Gabi , pelos momentos que passaram juntos na grande luta pela continuidade da vida .)