segunda-feira, 22 de março de 2010

SIDÃO MY BROTHER ! by Necão

O Sidão sempre me falou do “Coven Garden”, lugar em Londres, onde os músicos tocam ao ar livre, para as pessoas que passam por ali, em busca de arte, encontros, curiosidades, altas paparias ou simplesmente matar o tempo a espera de alguma coisa nova.


- “ O Hallai Hallai tem que vir pra cá, para tocar nestas calçadas(disse ele), onde vários artistas começaram suas carreiras. Lugar onde mora o sonho, onde começa a realidade, onde seus espaços foram enobrecidos pela arte”. Lá se vão horas de vôo daqueles tempos do” Hallai” autêntico, de violas e de vocais; (Good- Good Night, cinzenta América ) (-)...mas o “reboco” sempre continua úmido quando a gente se encontra e fala do “Hallai” ,sempre a espera de um novo lance para escrever nestas paredes “a fresco” de nossos sonhos .


Este é o Sidão, que nunca esquece o “velho vocal” e tem muitas restrições a teclados com som “murrinha” e baterista que não toca nada , e só atrapalha a pureza do som das violas. Contrabaixista de mão cheia e violeiro dos bons, começou esta história comigo, lá no calorão do Rio, mas com aquelas tardes de “Copacabana”, depois da batalha do dia, com aquele ar internacional do vento do mundo, daquele mar gelado, mas azul !



“Sidão, lembra quando nós chegamos no Rio(1973), era dia de São Cosme e Damião, ficamos parados na Central do Brasil, quando chegou uma senhora e disse: Cuidado meus filhos, hoje é dia de São Cosme e Damião, e tem muito assalto na cidade. É muito perigoso este dia ! Saímos dali e entramos no primeiro Hotelzinho (pouco preço) e pernoitamos com aquelas duas malas “ pesando ferro”... Depois , quando nos instalamos em Copacabana, surgiu aquele som, que a gente toca até hoje...


Central do Brasil (1973)


Cheguei no Rio de janeiro/
Com as estrelas de setembro/
Em plena madrugada senti o forte verão/


Um jejum de amigos/
Eu senti quando falei/
O belo , o feio e o neutro/
Era incolor no meu olhar/


Com a mala pesando ferro/
Fiquei parado na Central do Brasil /


A tarde morna silencia/
A alegria da manhã/
O grito agudo das latas /
Freia o meu andar/


Despedaçando a madrugada/
Os watts do Redentor
O dia chegando lento/
Sem o astro central/


Com a mala pesando ferro/
Fiquei parado na Central do Brasil /


(aí entra aquele final maravilha/com altos violões no “pau”)
Ainda bem...Ainda bem ...
Copacabana não me enganou...
Copacabana não me enganou...


p.s. isto tudo ficou gravado nos estúdios da “Polydoro”,bem ali na Av. Rio Branco/ Centro do Rio.



O Sidão sempre tentou mostrar “ a mosca como sair da garrafa”, isto desde pequeno; Nós morávamos numa casa de madeira dupla, onde tinha na parede uma foto dos “Beatles”, bem pequena . Eu me acordava olhava para o lado, e a cama dele já estava vazia, lá sei eu, onde tinha ido meu irmão.
Sempre foi assim , como um programa de computador que determina o que aparece na tela, sem que ele mesmo surja dali.




No meu mosaico mental , que foi feito através do tempo , eu defino meu irmão dentro do pensamento de Walt Whitman que disse que sempre havia uma multidão dentro dele.



É isso, o Sidão sempre com a cabeça na pista, esquecendo a noção de localização, verdadeiro “on the Road”, mas conectado com as coisas da família, mesmo estando dentro do metrô de Londres.
Quando observei a vida na família , no que ela tem de variado e complexo,
a minha alternativa foi acreditar na magia ; encontrei nesta busca dois tipos de texto,o literário e o genético. O mano, conseguiu unir estes dois
textos com uma seleção natural num escrito químico invisível , ele conseguiu fazer a ligação com o pato e a laranja para que todos pudessem comer os dois... , ou seja nunca disse não a família, mesmo diante de tantos raciocínios e dialetos criados pela própria família.


O Hallai sempre entrou nessa história, como antena confiável, sem nunca perder a transmissão. Uma rede familiar se forma através do tempo...,há tempo de plantar ...,há tempo de regar...,há tempo de colher...o posicionamento de muitas pessoas, dentro da família muitas vezes levou a um” nó “dentro do convívio familiar, mas o velho mano sempre olhou para o lado bom da vida e a gente sempre conseguiu ”segurar o vento”.



De lambreta, com uma capa amarela para se cobrir da chuva, daqueles anos “60” , em meio de todas aquelas baladas que estavam criando o caminho, “the long and winding road”, onde, ele, começou a alargar o coração, transcendendo a si próprio, onde adquiriu a liberdade para seguir os caminhos do mundo..., lá se foi o Sidão pelas “luzes de Paris”,Piaf púlpito de Notre Dame, Arco do Triunfo, Louvre, Madeleine,pelos Phateon da vida ao encontro de Londres ,do Trafalgar, do Tamisa,
Hide Park, Picadilly, antes sempre passando pela feirinha de sábado de “Nothing Hill”,e do Coven Garden, o lugar onde o “Hallai”,deveria ter chegado naqueles anos setenta para cantar “Tributo aos Beatles”, uma das primeiras canções que rolou no Mr. Lee.


Existe dentro de uma constelação familiar, uma espécie de armazém relativamente passivo, e também o “guardião”, um elemento semelhante ao“eu”, que permanece misterioso, este é o “Grande SIDÃO”...my brother !
Necão * Sidão * Rio(1973)