terça-feira, 3 de agosto de 2010

DEPOIMENTO ( 8 )*

Vivendología de Lee

  - Mr. Lee in Concert end of the Line -
                               -The Last Waltz-
 "ENTERREM MEU CORAÇÃO
          NA CURVA DA GENERAL CÂMARA COM A RUA DA PRAIA"!
                                                                               
                   












Time : Outros guerreiros que participaram da breve e sinuosa rua dos concertos e do programa de rádio de Mr. Lee in Concert: Grupo Ensaio / Utopia / Bobo da Corte / Em palpos de Aranha / Mercado Livre / Wanderley Falkenberg / Gil Gerson / Zacarias / Ensaio / Emergência / Flor de Cactus / Metamorfose / Afro Sul /Grupo Latino / Elbia / Bizarro / Beto Barcelos / Paulo Chaves / João Schu / Opus 6/ Toneco / Ayres / Beto Roncaferro /Nelson Coelho de Castro / Carlinhos Hartlieb (A música Maria da Paz rodou pela primeira vez no programa de Mr. Lee. Atravéz dessa canção , Carlinhos introduziu o instrumento de origem latina chamado “Charango” na música urbana de Porto Alegre. Esta relação mostra alguns guerreiros que participaram de “batalhas fugazes “. Alguns tombaram diante do mecanismo, outros escolheram outros “insight” diante do receio de serem catalogados para todo sempre de “americanos ou “midle of the Roader”.,(em cima do muro) 

.                                                     Inacinho , Zé Flávio, Robson,
                                                      Paulinho, Sergio, João Antonio.


                                                       - A DINÂMICA DO PASSADO -

A Última Valsa !
Comunicamos aos porto alegrenses, que no ano de 1976 morreu, o “Vivendo a Vida de Lee" , movimento musical que plantou alguns pedaços de” grama “neste chão árido de nossa cidade.
Estas datas 3 e 4 de dezembro de 1976, ficaram marcadas para sempre em nossas lembranças, pois com elas foram enterrados sonhos, aspirações, músicas e experiências .
A linguagem da mente e as questões cruciais também foram enterradas; os assentamentos dos tijolos, as canalizações, as vigas e as fundações da Continental não resistiram ao “próprio ego" , e as funções, a estética, o estilo, que traduzia o propósito e o desejo dos músicos ruíram “ad absurdum”!

Um dos motivos que levaram a este triste desenrolar,  foi   o presumido livre-arbítrio dos músicos e de Mr. Lee , e a indeterminação da Continental quanto ao futuro ou seja: Eles badalaram o sacristão e quando o sacristão foi badalar o sino, ouve o corte.

Cada músico tentou na época, encontrar a melhor linguagem para falar a respeito, mas o diálogo das partes, não soube explicar o fato das perenes questões de “la condition humaine”, dinheiro...dinheiro... , money !

As organizações musicais que cuidavam dos interesses do músicos , não se fizeram presentes. O ECAD, ORDEM DOS MÚSICOS DO BRASIL, SINDICATO DOS COMPOSITORES , GRAVADORAS, AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE, TVs, JORNAIS, Editoras, JORNALISTAS, ETC......todos foram unânimes em dizer:“Rei Morto , Rei Posto !

Um dos fatos mais interessantes , é que nenhum músico ouviu qualquer ruído que pudesse “dar um alerta”, para aquela situação que estava para acontecer. Os músicos , sempre foram mais , muito mais...mas isto sempre esteve incubado dentro de um senso nebuloso de autoridade interior, o que fez com que o “canário” dos músicos de Porto alegre, fosse comido pelo “gato” das emissoras de rádio.

As duas últimas noites do “Vivendo a Vida de Lee”,que antecedeu a sua morte, ainda dava aos músicos castelos semânticos no ar, apoiados em pilares da máquina Ampex e nos microfones Newmann da Continental.
Quer dizer: Ninguém sabia de nada, e foram todos para a “última valsa”.

Todo aquele fluxo de energia com as trilhas musicais todas definidas se acumularam dentro do Teatro Leopoldina, (1976) - que mexericos da época já murmuravam que, aquele histórico lugar sería transformado lá pelo ano de 2000, em garagem para os pobres automóveis de Pôrto Alegre.

                                
                                                                 A FACE DO FIM !

No dia 03 , antes do fim, se apresentaram João Schu, que desapareceu, Nelson Coelho de Castro que escapou ileso, ( não teve participação constante) “Opus 6” que não deixou vestígios, Fernando Ribeiro, lutou até o fim gritando :-“Eu não sou vendedor de cachorro quente! ..Inconsciente Coletivo, sementes a espera de um campo de centeio..., e Almôndegas que já estava em fase de reflexão por parte de Kleiton e Kledir.

No dia 4 de dezembro de 1976 se apresentaram, Gilberto Travi e o Cálculo 4, que tentaram fazer alguma coisa, mas os bastidores levaram eles para outros lugares ..., Hallai Hallai, dentro de uma ilusão de filme . O Mantra, em que Zé Flávio já falava em última noite da Banda, sem saber do" end of the line” de Lee.

Paulo Chaves , paranaense , apenas acordado esperando o desenrolar de uma cena derradeira.
Status 4 , aumentando a Banda 4 +4 ; ilusões vãns !
Hermes Aquino que encerrou a apresentação daquele dia fatídico ( 04 de dezembro de 1976) com a canção “Nuvem Passageira” ; premonição ?!?!
Podemos examinar com este” laudo histórico “, os dois modos extremos. O lado “serial killer” da Continental , que detonou o som local, e o lado dos músicos com uma vela na mão dentro de uma caverna escura.

Com a morte do “Vivendo”, a Continental se transformou num gato exótico, gordo e aleijado ,acabou! Os músicos de Porto Alegre mais uma vez viraram “carta de um baralho velho”sem dinheiro para jogar.

Todos ficaram esperando a grande reviravolta de uma nova história evolutiva que não houve !

“Os jornais da época comentaram assim: -O Teatro Leopoldina, esteve lotado nos dois dias, uma prova de que a locomotiva tem carvão (ou óleo) suficiente para prosseguir até tentar novos caminhos.

No livro do Lucio Haeser (trinta anos depois).

“Poucos dias depois a Lee não renova o contrato com a 1120 ´para o ano de 1977. Segundo o diretor da Lee, Américo Bender, o diretor da Continental, Fernando Westphalen, queria muito dinheiro e não arredou pé.

O preço que “Judeu” queria equivalia a toda a verba disponível por Bender para divulgação. ACABOU O NEGÓCIO ! Os músicos não fizeram parte desta negociação, e nem foram sequer ouvidos, foi um “extermínio “ contra a música local feito pela Continental.

Chegamos ao ponto final; foram os músicos  vítimas de uma rádio egoísta ?

Vivendo a vida de Lee, morreu ! Foi assim como a extinção da Rússia... , ninguém deu nenhum tiro.

O custo disso tudo, não tem dinheiro que pague, os cachorros não latiram mais as 10 da noite, foram enviados para a “carrocinha” , para se transformar em sabão da história.

O poema de Dylan Thomas , define estes dois dias fatídicos: Não trate a boa noite (3 e 4 de dezembro/1976) com amor ,"Enfureça-se, enfureça-se contra a morte  do fulgor”.

A socialista “Continental “ não leu este livro !
Por isso” deu no que deu”; músicos locais fora !


                                                   -  Livro da estante do Necão desde 1969 -


Entrevistado : Necão Castilhos
Participam : Marco Silveira (UFRGS)
Ananda Souza Morais (Publicidade)
Alberto Lucas Ribeiro (Jornalista)

Steffani Dias( Layout/Produções)

p/ Lucas – Necão,como explicar o fim de um sonho , quando o “Mr. Lee” ,já tinha conquistado sua própria personalidade, o rádio já tinha atingido um público geral, e as práticas comerciais estavam na mão da Continental...agências, gravadoras, patrocinadores,será que o depto de vendas da Continental, os contatos enfim , não perceberam que o “Mr. Lee”, era o alicerse daquilo tudo pelo impacto que estava causando na mídia e no público, será que foi somente “mea culpa” do diretor que cresceu os olhos sobre a Cia. Lee, e queria resolver todos os seus problemas e deixar tudo ,depois ?

p/ Nanda – E tem mais, é muito estranho ,naquela época ou as pessoas que se dizíam socialistas, elas na verdade não ficavam” em cima do muro” além disso tudo, será que a Continental já não estava condenada a”gatinho de estimação castrado da história” , assim como é hoje a” bossa nova”, todo mundo acha bonitinha e passa a mão por cima,dizendo...,”que gracinha”, mas ela continua lá, engordando, não faz mal a ninguém !

r/ Necão – Já passaram mais de 30 anos, a eficiência da Continental não tinha consciência de grupo, o que é fundamental para crescer... ninguém escapa de seus próprios precipícios,, aqueles tempos foram assim.
O ar da Continental foi saturado com aquela história de “esquerda festiva”,e o “dono “ da “Conti”,estava segurando o “cachorro “ , mas estava preso pela colera .

Meu avô Cezar, é que era autêntico, lia a “Gazeta Comunista” e bradava que o “Partidão “era a única saída para a classe operária , num tempo distante, bem antes da mídia começar com aquela“estória”, de “comedor de criancinhas”, e ele não ficou nunca em cima do muro, ao contrario da Continental a rádio “midlle of the roader “dos anos 70.

p/ Fanni – Já não era nem mais “sonho” , era pura realidade,isto que aconteceu foi para os músicos um contra-mídia, ...ninguém vale nada..., pronto não quero mais brincar de “música local”, quero outra coisa...!?!?

r/ Necão – É ...fumar faz bem a saúde...os anuncios da “Conti”, continuaram faturando....e a” música local “
um mal , que deveria ser abolido... é necessário sempre perguntar pela natureza humana porque o interesse deve sempre partir dos indivíduos ; e não como foi feito..., mas o mais brutal é que a música local ainda é uma desconhecida para 70% dos programadores das rádio Am /Fm  de Porto Alegre.

P / Lucas - Mas o que acontece é que o músico daqui, pela sua personalidade e pela história que nos rodeia, não pode ser controlado pelas rádios e pelos programadores daqui, eles falam e moram do lado, são mais visíveis.

O músico que vem lá de cima, chega aki cheio de sorrizos e topam qualquer show no “Teatro Pôr Do Sol” patrocinado pelas ainda gravadoras que pagam a seus divulgadores (rádio) ;este sabonete todo, que é gasto depois na pia do banheiro para lavar as mãos... eu não tenho culpa por esta nova onda que esta chegando, ainda dizem eles... vamos todos para Canela,onde as velhas “raposas” do disco se encontram e gospem no próprio prato que comeram... encontraremos velhos “sabonetes “iremos relança-los quem sabe um nova onda..., mas vamos colocar algum músico daqui , para contentá-los,uma alquimia,,,,tipo assim, um músico sertanejo com um “quera” gaúcho, isto vai dar resultados, eu jogo tudo nisso...heh heh heh heh ! GaudérioBahianoMineirocCarioca, e dele vinho gaúcho..., e segue a noite toda no Hotel de Canela , todos
cantando musicas da “jovem guarda”.

r/ Necão – As fontes todas nunca ficaram pensando nos músicos, tudo sempre rolou dentro de um arcabouço , os resultados para o artista daqui, de um modo geral, sempre foram relegados a um segundo plano, e o que é pior , sempre com aquele pensamento... é música local , eles podem esperar !

p/Marco – Necão, me diga algumas coisas que possam provar que o Hallai era uma boa Banda?

r/ Necão – Carlinhos Hartlib lançou o Hallai...(músico respeitado com extenso trabalho prestado no sul e foi o semeador do “som local” em Porto Alegre, o mesmo Carlinhos nos levou para a TV. Gaúcha (RBS), para divulgar os “Rodas de Som”, movimento histórico).

Após isso, Laurinho( SOM 4) que trabalhava como produtor do” Rodas” com o Carlinhos, apresentou-nos a Júlio Furst, do Vivendo a Vida de Lee; extremamente exigente em relação a música, além de participarmos do “Vivendo”, com resultados sempre crescentes, elaboramos jingles para o “Mr. Lee, depois que tudo “deu no que deu” , e o Mr. Lee se transformou em Mestre Júlio, fizemos a abertura deste novo programa.

Depois, quando o Júlio foi para a Atlândida, radio da RBS,fizemos , também a abertura para “Na Curva do Radio”, programa que estourou no ar da cidade.

Quando o “Mr Lee” acabou, fomos convidados pela RBS, para gravação de dois “Fantásticos-locais", um com produção do Perin , que estava começando a fazer história na RBS. Pedrinho Siroski, gostava muito da Banda.

Ficamos no sul, depois de Mr.Lee, durante 10 anos, fazendo apresentações no estado, quando eu fiz a música “Segurando o Vento”,o empresário de São Leopoldo, Minetto, ficou tão empolgado que deu uma aparelhagem de som de presente para o” Hallai” seguir na estrada. .





                                               -  Concertos de Mr. Lee em vários  locais  -
Fomos para São Paulo depois de 10 anos, da data em que  Mr. Lee tinha fechado as portas, chegamos e fomos contratado pelo Moacir Machado com o aval do Produtor Michael, que lançou praticamente a música sertaneja no Brasil, também contratou Almir Satter,Zeca Pagodinho, Zezé de Camargo, Leandro e Leonardo,etc...que inclusive estiveram no show de lançamento do disco do “Hallai” em São Paulo.

Uma das primeiras músicas de Zezé de Camargo foi feita pelo Paulinho do Hallai, a contra gosto . Paulinho odiava e odeia musica sertaneja até hoje, por todo esquema que estava começando a ser montado  dentro da 3M , e que "detonou" toda e qualquer possibilidade de outros idéias ...mas devido a concessões o Paulinho foi obrigado a  "engolir ", para que alguma coisa da verba ficasse para a banda. Lêdo engano! Fomos vilipediados culturamente , nossa verba de representação em contrato ,foi desviada para a música sertaneja. Hoje de uma certa forma é  impossível de entender isso , devido ao fato do sucesso (povão) desta música. Mas tudo podería ter sido diferente e o próprio país podería ter sofrido menos culturalmente.

                                                             Paulinho Velho Xerife

Ronnie Von, Agnaldo Rayol,Luiz Airão ficaram entusiamado com as músicas e idéias do “Hallai”, a própria gravadora estava entusiamada, inclusive os compositores que faziam as músicas para todo o “cast” da empresa.

Fernando Ribeiro foi um dos primeiros a assistir nossos ensaios, onde se tornou fã da Banda, pois tomou ciência do nosso repertório, e foi quando nos deu a canção “Quando Viajar Pro Norte”, para fazer parte de nosso repertório, coisa que passou desapercebida pela mídia de Porto Alegre pela falta de espaço para a divulgação; Aparício Silva Rillo, declarou que a música “Meu Lugar” (Paulinho) foi uma das mais bonitas que ouviu falando de “nossa gente”.

O “hallai hallai”entrou no mundo dos negócios amadoramente, os músicos da banda, no meu ponto de vista foram heróis dos acontecimentos que se sucederam um atráz do outro, muitas vezes nos levando para o abismo; mas nós todos, sempre com aquela luz do “Hallai Hallai. Só isto já me basta para ter acreditado na banda “Hallai Hallai”, que veio as minhas mãos em 1973, no Rio de Janeiro. Agora tem uma coisa , mesmo dentro do sistema as músicas do Hallai , questionavam o próprio sistema...,ela não foi engolida com facilidade, uma conspiração constante era nítido dentro de nós, este sempre foi o papel da banda, um muco quente e úmido que nutria nossos próprios caráteres ; a gente enfurecia nossas “terras”deixando elas para um campo de cultivo para nossas próprias potencialidades, como” Jung” fazia. (Músicas que representaram esta idéia: América/ Vento Minuano /Pedro e Sara /Falsos Deuses/Meu Lugar/ Beijos Traídos/ Natural/ Águias /Sul / Quando Viajar pro Norte/ Bata de Novo Joe Louis / Segurando o Vento ...etc...

Tenho muito mais coisas para relatar..., mas a história continuou depois do “Vivendo”, o único problema é que chegamos em São Paulo 10 anos depois que terminou o Mr. Lee, e já estávamos com as energias a “meia bôca”,e os problemas internos da banda de tanto acreditar e investir em Porto Alegre , deixaram todos escaldados “cachorro mordido de cobra tem medo de lingüiça”. Tudo que aconteceu em São Paulo é uma história que ficou marcada em minha memória..., conheci todos os lados dessa” coisa” chamada bastidores, , nisso tudo entra a “banda” , gravadora, empresários,músicos, músicas, famílias,amigos,sonhos,
frustrações, incoerências, brigas, discussões, céus , infernos, ignorância, rádios , TVs, teatros... e uma coisa que de fato detonou tudo, foi a verba da gravadora que estava destinada ao grupo Hallai e foi desviada para a vertente da música sertaneja que estava começando no Brasil...( isto aconteceu ambém com outros artistas não sertanejos)e olha que isto estava em contrato, mas o diretor da gravadora não quis nem saber , pois era fã deste segmento que estava para explodir no País. Fiquei sabendo disso tudo um ano depois , pelo nosso produtor da própria gravadora . A Arte de um modo em geral é comandada pelos mecenas da arte, esta fato acontecido dentro da gravadora de colocar toda verba em cima de um segmento musical (sertanejo) , fez que este segmento acontecesse. Tudo podería ter sido diferente, SE TUDO FOSSE DEMOCRATICAMENTE DIVIDIDO, mas não é isso que sempre acontece, quem sofre com isso são os próprios  músicos etc.., e a cultura sofre , não existe desenvolvimento
nem oportunidade para novas idéias, novas formulas, e o país fica sem opção , e o povo como diz o poeta...
Há Há Há ..".Vida de gado povo marcado povo feliz". Quem ganha com isso ?


                                               Foto com interpretação conceitual do fim
                                               
Atores: Júlio Furst/ Gilberto Travi/ Paulinho Zam

No chão Júlio Furst, sendo nocauteado pela “Rádio Continental”, “Som Local fora”/ Paulinho do “Hallai”, que representava os músicos de Porto Alegre, tentando num último esforço, defender a
continuação  do "som local", Gilberto Travi, representando a Continental, já tinha liquidado o Mr. Lee , e agora tentava acabar com o que restava do Vivendo a Vida de Lee".

Tudo isto aconteceu na apresentação do Hallai Hallai do dia 04 de dezembro de 1976, no palco histórico do Teatro Leopoldina. Tudo com a trilha sonora da música Cowboy.

Necão – Para chegar ao epílogo algo me vem a cabeça eu sempre me lembro de algo que o escritor Érico Veríssimo falou e escreveu a respeito desse assunto, quando evocava nossa aldeia...”Talvez o drama de nossos músicos , artistas, escritores , enfim..., esteja nessa ilusória aparência de falta de drama”. É exatamente isto...,falso orgulho, eu não preciso do dinheiro da arte para viver,isto pra mim é um “roby”, eu tenho o meu “empreguinho”..., todas estes lances levaram ao “balaio de caranguejos”, lenda urbana dos artistas de Porto Alegre, esta pra mim, o ponto inicial da não formação de um mercado profissional com músicos daqui. Hoje temos algumas mudanças a começar pela busina do gazômetro que  esta mudando radicalmente o pensamento sobre "música local", mostrando a todos, o  trabalho dos músicos gaúchos  como música do mundo e do Brasil. (trinta anos depois do Vivendo)

p/ Fanni – Isto tudo é uma clara definição da cara da individualidade...o reino é meu ...eu sou o rei...,o resto
é politico ..., para encher meus cofres ..., eles são músicos gaúchos e não precisam de grana para viver ...
são todos educadinhos, e trabalham nos bancos da cidade.

r/ Necão – Sempre , depois dos Concertos da Lee, nas segundas feiras, eu ía até o estudio do Egon da Cotempo(Eger), para ouvir as fitas das apresentações, para corrigir alguma coisa ,nas apresentações do Hallai..., o Egon sempre me falava assim: Necão, aproveita este momento isto tudo vai passar, esta energia vai se perder no ar, eu conheço este mercado,isto não vai durar . Não acreditei..., anos depois a mesma coisa aconteceu em São Paulo, o maestro Maurício Novaes, da gravadora me disse a mesma coisa ...Necão , aproveita tudo que tu puder ,isto vai passar....... , não acreditei novamente. É aquela velha história , a cabeça nas estrelas e os pés também.

P / Lucas – Todos os movimentos que aconteceram aki no sul (Porto Alegre) na verdade duraram muito pouco, será que isto não é uma característica de nossa cidade e de nossa arte, é assim que tem que funcionar e as coisas todas não se desenvolvem por este espírito passageiro, sempre em busca de algo que nos foge e que ao mesmo tempo nos faz viver?

R /Necão - Isto pode ser até literário, mas acontece que Mr. Lee in Concert só teve oito apresentações é muito pouco para tanta energia acumulada. É a mesma coisa de ter construído uma Usina, para acender uma vela .

E tem mais, toda aquela euforia dentro da Continental não veio de graça pra ninguém , pelo menos para nós da Banda ,a coisa era muito séria, a gente viva 24 horas pensando em sempre melhorar cada vez mais , e a formação de tudo aquilo , foi mágica ?,Ilusionismo ?, aqueles encontros todos tinha uma finalidade formar um núcleo de música em Porto Alegre e se profissionalizar ..., pra mim a coisa toda era para para viver de música...a mesma coisa de se formar numa profissão e depois exercer esta função naturalmente. Esta é a grande diferença.
 P/ Marco - E o Júlio  , fale dele , agora nestes instantes finais ?


 R/ Necão - O Júlio foi o gerador de tudo , e por méritos ficou na história como o radialista que introduziu o "Som Local " no solo urbano de Porto Alegre  pelas ondas do rádio. Ele criou esta "distração"
com o som feito em Porto Alegre quando ninguém acreditava que isso fôsse possível. Foi líder do movimento e porta voz dos artistas do "Vivendo a Vida de Lee". Foi sem dúvida uma idéia engenhosa obra
de inteligência, pois misturou o melhor som gravado nos estudios americanos, com o som local gravado nos dois canais da Continental.  A  Continental  na verdade era um apartamento de 03 quartos em plena Rua da Praia ,com dois estudios super pequenos movido a fita cartucho ; com apenas isso na mão o "Cowboy fez
uma "revolução". Isto prova na verdade que as coisas podem acontecer quando o talento se encontra com um gerador principal (Júlio) , tudo emergiu gradualmente, à medida em que os músicos foram se chegando
e enxergando no Júlio ,talento para tirar de nossa cidade todo conservantismo cristalizado por anos a fio. O Júlio foi "altoprotetor" de todos , inclusive dos discos (LP's) que "rolavam" na parte internacional " do ´programa ,  eram do Júlio , êle ia aos "State" para comprar. A discoteca da Continental  não tinha todo este "aprouche" no seus arquivos . As condições de todo sistema que movia aquela época , não eram assim muito a favor de tudo aquilo que estava "estourando no ar", a própria Continental não tinha todo intelecto para segurar aquela postura do Júlio. Foi pra mim o melhor momento do "Cowboy", nunca vi tanta energía numa pessoa só. Tudo foi sagrado ...tudo foi profano ...por ter aberto a possibilidade de existir o "Som Local , o Júlio representou o "motor na frente e por trás dos bastidores, na criação de todo movimento do
"Vivendo a Vida de Lee.


P / Marco -  E o Hallai ?

R / Necão ...
  O surgimento desta idéia “Hallai”, que se transformou numa banda de vocal, fez surgir novos pensamentos e emoções, vinda de um lugar desconhecido, isto foi um mistério que foi colocado na minha mão, e que teria que ser vivido, não um problema a ser resolvido ou negado. Tudo isto, os músicos do “Halla Hallai, também
sentiram quando se depararam pela primeira vez com esta nova situação em suas vidas..., portanto, há processos na alma dos quais não temos consciência imediata, e as pessoas em geral não compreendem que estes movimentos dentro de nós , não procedem de nós mesmos , mas de uma força que chamamos DEUS!


                                  -  Momentos históricos do Vivendo a Vida de Lee-

                                                      ... seu cavalo envelheceu /
... seu cabelo embranqueceu
...hei , hei , hei cowboy !

                                                             - Coast to Coast -

“Coast to Coast , não aconteceu..., aquele “papo entre O Júlio , Paulinho e, eu / na subida da “General “ , depois do programa , ficou nos sonhos...tínhamos na verdade medo de perder  o "Vivendo a Vida  de Lee", que na verdade estava se encaminhando para o FIM.

"Enterrem
           Meu Coração          
     na Curva da General Câmara 
   com a Rua da Praia".

FIM*